Notícias Lusófonas8.05.07
Timor Lorosae
O antigo ministro da Defesa australiano Bill Morrison disse hoje que, em 1975, Portugal queria abandonar Timor-Leste "o mais rápido possível" e que Lisboa pretendia a invasão indonésia para se fazer de "vítima".
As declarações de Bill Morrison foram feitas ao depor no inquérito do tribunal de Sidney que investiga a morte do jornalista britânico Brian Peters, residente na época no estado de Nova Gales do Sul (Austrália), e que morreu em Balibó (oeste de Timor-Leste) a 16 de Outubro de 1975, juntamente com quatro outros jornalistas baseados na Austrália.
Nas suas declarações, Morrison citou um ministro português, "Mr. Santos", que lhe disse que Portugal "queria sair o mais rápido possível" do território, numa altura em que se preparava a invasão indonésia da, na altura, ainda Província Portuguesa de Timor.
Entre 19 de Outubro de 1974 e 11 de Setembro de 1975, António Almeida Santos, então ministro da Coordenação Interterritorial do governo português, com o pelouro das colónias, efectuou pelo menos três visitas a Jacarta para contactos com as autoridades indonésias e numa delas deslocou-se igualmente a Camberra onde contactou com o governo australiano.
"Ambos os lados, os portugueses e os indonésios, queriam o mesmo: o ministro português Santos tinha-me dito que Portugal queria sair o mais rápido possível de Timor, e que a melhor maneira era a Indonésia invadir Timor, e Portugal sair como a pobre vítima", afirmou Bill Morrison.
O ex-ministro foi interrogado por Mark Tedeschi, conselheiro assistente da juíza Dorelle Pinch, que lidera as investigações, após o depoimento de mais de três horas do antigo primeiro-ministro Gough Whitlam (1972/75).
Marc Tedeschi perguntou especificamente sobre uma mensagem enviada a Camberra pelo embaixador da Austrália em Jacarta, Richard Woolcott, datada de 13 de Outubro de 1975, à qual o tribunal teve acesso.
Nessa mensagem, o embaixador informava que a parte principal das operações militares indonésias em Timor-Leste começaria a 15 de Outubro (de 1975) em Balibó e Maliana, que nenhuma bandeira indonésia seria usada e que a operação se destinava a evitar que a Fretilin consolidasse ainda mais a sua posição no território.
Bill Morrison disse que teve conhecimento desta mensagem ainda no dia 13 desse mês e que sabia da invasão indonésia a Balibó, com os soldados indonésios disfarçados de timorenses, sublinhando, porém, que seria melhor dar, primeiro, o "quadro geral" da situação naquele momento.
Foi nessa altura que Morrison recorreu às palavras de Almeida Santos, que foi mais vezes ministro em vários governos, presidente do Partido Socialista (PS) e do Parlamento português.
No seu depoimento, mas noutro contexto, Morrison referiu-se ao ministro português, o qual, disse, queria que as forças australianas fossem para Timor.
No entanto, após o regresso das suas tropas do Vietname, o então titular da pasta da Defesa de Camberra não tinha nenhum interesse em enviar soldados australianos para o exterior.
O ex-ministro, que esteve no cargo até Dezembro de 1975, confirmou no tribunal que nunca relatou ao então primeiro-ministro Gough Whitlam as mortes dos cinco jornalistas, em Balibó, Timor-Leste.
No mesmo tribunal, mas momentos antes, Whitlam, actualmente com 90 anos, afirmou não ter tido conhecimento prévio da invasão indonésia de Timor-Leste e que só soube da morte dos cinco jornalistas cinco dias após terem sido abatidos a tiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário