Lisboa, 07 Abr (Lusa) - Um dos fundadores da APARATI, associação de timorenses em Portugal, lamentou hoje que os cidadãos de Timor-Leste que vivem no estrangeiro não participem nas eleições presidenciais de segunda-feira, considerando que se votassem ficariam "mais ligados" ao país.
"Os cidadãos timorenses que vivem no estrangeiro deveriam votar, principalmente quando se escolhe o presidente", disse à Agência Lusa Manuel Caldas, da direcção da APARATI.
Para Manuel Caldas, que vive em Portugal há 17 anos, os emigrantes timorenses deveriam ter o direito de votar, uma vez que a maioria ajuda na reconstrução do país "através do envio de bens e de dinheiro para os seus familiares e conterrâneos".
"Ao votarem estão mais ligados a Timor-Leste", salientou, adiantando que os emigrantes timorenses "têm uma ligação afectiva" ao país.
Segundo Manuel Caldas, muitos dos timorenses dizem que um dia vão voltar definitivamente a Timor-Leste e mesmo aqueles que nunca chegam a regressar "participam na construção do país de longe".
O dirigente da APARATI questionou ainda porque é que em 1999 todos participaram no referendo sobre a independência e agora são excluídos da votação, lamentando, por outro lado a onda de violência no país que se prolonga há quase um ano.
"É triste. Ajudamos os nossos conterrâneos a construir uma casa, que depois é destruída", disse.
Segundo a APARATI, vivem em Portugal cerca de 2.000 timorenses, que chegaram, na sua maioria, entre 1976 e 1986 e estão sobretudo concentrados nas regiões de Lisboa e Setúbal.
Manuel Caldas referiu que muitos desses timorenses já têm a nacionalidade portuguesa, pois o governo português permite que os cidadãos de Timor-Leste nascidos até 1975 e os filhos se tornem portugueses.
Portugal é também escolhido por muitos jovens para estudarem no ensino superior, estimando-se que sejam cerca de 300 os estudantes timorenses nas várias universidades portuguesas.
De acordo com o mesmo responsável, actualmente a emigração timorense para Portugal é praticamente nula devido ao processo burocrático e à falta de meios financeiros.
"Há muitos timorenses que gostariam de vir para Portugal devido à falta de emprego no país, mas não têm condições financeiras", disse.
Aqueles que conseguem emigrar, perto de 100 anualmente, são jovens e apenas se servem de Portugal para entrar em outros países da Europa, salientou, adiantando que já são muitos os timorenses a viver na Inglaterra, Dinamarca e Irlanda do Norte.
Criada há cerca de seis anos, a APARATI, sedeada nas Olaias, em Lisboa, divulga a cultura de Timor-Leste em Portugal, ajuda na integração dos timorenses e apoia os estudantes.
A APARATI dá ainda continuidade ao projecto de reconhecimento dos direitos dos antigos funcionários timorenses durante a administração portuguesa.
Segundo Manuel Caldas, existiam cerca de 4.000 timorenses nestas condições, faltando ainda reconhecer os direitos a mais de 1.000 ex-funcionários.
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