terça-feira, abril 10, 2007

Timor: Receios de violência após resultados

Correio da Manhã, 2007-04-10 - 00:00:00

GNR em alerta

O povo timorense acorreu em massa às urnas para escolher o sucessor de Xanana Gusmão na presidência. O acto eleitoral decorreu com civismo e sem incidentes graves, mas persiste o receio de que a violência regresse quando forem conhecidos os resultados provisórios entre amanhã e sexta-feira. Por isso, todas as forças de segurança nacionais e internacionais em Timor estão em alerta, preparadas para repor a ordem caso ressurja a violência.

As primeiras indicações da Comissão Nacional de Eleições apontavam ontem para uma segunda volta entre o candidato independente José Ramos-Horta e o candidato apoiado pelo Partido Democrático Fernando ‘Lasama’ de Araújo.

Apesar do acto aleitoral ter decorrido ontem quase sem incidentes – registaram-se problemas de funcionamento em algumas assembleias de voto –, a Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste mantém no terreno toda a operação de segurança até ao dia 20, data prevista para a divulgação oficial dos resultados eleitorais.

A missão de segurança, integrada por militares da GNR, é composta por 1645 polícias da ONU, 3000 timorenses e 1300 das forças de estabilização.

Se houver segunda volta, os dois candidatos mais votados disputarão a eleição 30 dias após o anúncio formal dos resultados.

Os oito candidatos à sucessão do presidente Xanana Gusmão votaram na capital timorense, Díli, onde a grande maioria das urnas abriu à hora marcada, 07h00 locais de segunda-feira (23h00 de domingo em Lisboa).

Todos os candidatos louvaram a grande afluência às urnas e o clima de paz em que decorreu o acto eleitoral. Todos salientaram a necessidade de acatar os resultados com responsabilidade e tranquilidade.

O candidato mais optimista foi Francisco Guterres ‘Lu Olo’, apoiado pela Fretilin, que disse acreditar na vitória logo na primeira volta. Já o candidato independente Ramos-Horta referiu que estas eleições “são mais uma demonstração de civismo e de responsabilidade do povo timorense”. Por seu lado, Fernando ‘Lasama’ de Araújo, candidato apoiado pelo Partido Democrático, afirmou-se realista e disse acreditar na realização de uma segunda volta. O presidente cessante, Xanana Gusmão, deixou simbolicamente o acto de votar nas mãos do filho justificando que o gesto foi “pelo futuro das crianças de Timor-Leste.”

PRÓS & CONTRAS

As primeiras indicações da Comissão Nacional de Eleições (CNE) apontam para uma segunda volta nas eleições presidenciais entre o candidato independente José Ramos Horta e Fernando ‘Lasama’ de Araújo. Eis as vantagens e desvantagens dos três candidatos considerados favoritos, que serão provavelmente os mais votados.

JOSÉ RAMOS-HORTA

PRÓS - José Ramos-Horta, candidato independente, tem a seu favor a larga experiência política. Goza de grande estima junto da maioria da população e é o candidato com maior prestígio internacional. É também aquele que é capaz de gerar maior consenso político.

CONTRAS - O facto de Ramos-Horta pertencer à velha guarda da luta pela independência e ser apoiado pelo presidente Xanana Gusmão faz com que a nova geração, ávida de mudança, não se reveja nele.

FRANCISCO GUTERRES 'LU OLO'

PRÓS - Tem o apoio do maior partido timorense, a Fretilin, e é respeitado pelo seu passado ligado à luta pela independência.

CONTRAS - Não é muito popular, falta-lhe carisma. A sua eleição poderia abrir caminho a uma vitória da Fretilin nas legislativas, o que deixaria os três principais órgãos de soberania (Presidência, Parlamento e Governo) sob controlo do mesmo partido. O facto de durante a campanha sempre ter recusado admitir a possibilidade de uma segunda volta gerou alguma inquietação.

FERNANDO 'LASAMA' DE ARAÚJO

PRÓS – Tem a seu favor o factor surpresa. A sua vitória poderá traduzir um desejo de mudança capaz de conquistar a geração mais jovem. É próximo de Xanana e lidera um partido com raízes na luta contra a ocupação indonésia mas mais virado para o futuro.

CONTRAS – Falta de experiência e reconhecimento internacional. A velha guarda política timorense poderia olhar com desconfiança para um presidente que não faz parte da lista dos ‘históricos’.

SOLTAS

AUSTRÁLIA

A força de paz que a Austrália mantém em Timor-Leste vai continuar no país pelo menos até à realização das eleições legislativas, previstas para Junho ou Julho próximo, afirmou o chefe da diplomacia australiana, Alexander Downer.

BOLETINS

Em quatro estações de voto do distrito de Viqueque, de duas aldeias, não foi possível concretizar a votação porque os boletins de voto não chegaram a tempo. Até ao próximo dia 20 serão realizadas eleições nestas estações, disse a CNE.

LEANDRO ISAAC

O deputado Leandro Isaac, escondido no interior do país desde Fevereiro, não votou porque os militares australianos lhe “roubaram” o direito de voto, mas disse que o país precisa de mudança.

1 comentário:

  1. Citação:
    "...o que deixaria os três principais órgãos de soberania (Presidência, Parlamento e Governo)..."

    O que vale é que é só no Correio da Manhã. A maioria dos seus leitores nem deve saber o que quer dizer Órgãos de Soberania.

    Não sabia que o governo era um. E falta aquele outro que toda a gente se esquece sempre... a justiça...

    mas tá bem...

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