Jornal de Notícias – Sexta-feira, 13 de Abril de 2007
Orlando Castro
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Timor-Leste rejeitou os pedidos de recontagem dos votos das eleições presidenciais de segunda-feira, tal como foi proposto por Ramos-Horta, o segundo candidato mais votado - de acordo com dados ainda provisórios - e que irá disputar no próximo dia 9 a segunda volta com Francisco "Lu Olo" Guterres, concorrente apoiado pela Fretilin.
"É normal haver uma nova contagem porque há alegações sérias para investigar", argumenta Ramos-Horta, acrescentando que se recusa a fazer parte "de um grande engano do povo".
Depois de referir que não põe em causa a vitória de "Lu Olo", embora "estranhe a forma como repentinamente" o seu adversário apareceu com uma volumosa votação ("nem no tempo do milagre das rosas da rainha Santa Isabel"), Ramos-Horta mantém "intactas as esperanças de ser o futuro presidente", até porque a "Fretilin sofreu um enorme decréscimo de popularidade, descendo de 60% em 2001 para 30% em 2007".
"Perguntem ao padre Martinho Gusmão (porta-voz da CNE) por que é que as informações não foram dadas como deviam ter sido desde o início", respondeu Mari Alkatiri, dizendo que Ramos-Horta deveria questionar o milagre junto de Martinho Gusmão.
"O milagre é do padre. Hoje em dia eles também já fazem milagres", ironizou Mari Alkatiri, ex-primeiro-ministro e secretário-geral da Fretilin.
Alkatiri acusou também Ramos-Horta e o próprio Xanana Gusmão de "terem montado uma campanha contra a Fretilin, que incluiu desinformação, abuso de poder e intimidação".
Apesar de algumas divergências dos observadores internacionais quanto ao processo eleitoral, parece que a votação correu com normalidade, como ainda ontem afirmou a equipa brasileira que acompanhou as eleições. Isso não invalida que os resquícios da disputa e as acusações de irregularidades possam ameaçar a já precária estabilidade do país.
Martinho Gusmão admite a existência de algumas irregularidades, mas acrescenta que todas somadas não vão alterar a posição entre os candidatos, "até porque nenhum vai conseguir mais de 30%".
A Presidência da União Europeia felicitou ontem o povo timorense pela participação nas eleições, exortando as forças políticas a aceitar os resultados definitivos que, segundo a CNE, serão divulgados depois de amanhã.
A UE manifesta ainda o seu apreço pelo trabalho das autoridades timorenses, que pela primeira vez organizaram uma eleição, "de uma forma tranquila e eficiente, apesar do terreno e logísticas difíceis".
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