segunda-feira, abril 09, 2007

País atolado na miséria e despido de autonomia

Jornal de Notícias - Domingo, 8 de Abril de 2007

Pedro Olavo Simões

Timor-Leste, o mais jovem país do Mundo, a grande causa dos portugueses que já não o será assim tanto, joga amanhã importante cartada para o futuro. Oito candidatos - uma mulher e sete homens - apresentam-se a escrutínio para suceder a Xanana Gusmão na Presidência da República, mas tudo leva a crer que se assistirá a uma corrida a dois entre Francisco Guterres "Lu-Olo", o homem da FRETILIN, e José Ramos-Horta, o actual primeiro-ministro. Nação que tarda em sê-lo, esta meia ilha nos antípodas é uma moeda de faces bem diferenciadas o petróleo que a todos interessa; a miséria que alastra e não cessa.

A insatisfação acentuou as lutas intestinas, que conheceram o auge ao longo de 2006, num recrudescimento de violência que demonstrou que não será com facilidade que o jovem romperá o cordão umbilical que o liga às Nações Unidas, cuja presença parece ser o único verdadeiro garante de alguma segurança. Falta aos timorenses muita coisa, em especial a comida no prato, mas o que mais tem faltado é a unidade necessária à prossecução de um objectivo comum, algo que não põe necessariamente em causa o pluralismo democrático.

A eleição presidencial de amanhã, atendendo ao papel constitucional dado ao presidente da República, não é absolutamente determinante para o futuro do país, mas é um de dois passos fundamentais, associado às legislativas marcadas para o Verão. Da campanha, em que todos, cada qual à sua maneira, apelam à unidade enquanto atacam a credibilidade dos adversários, poderíamos inferir a simples normalidade do combate político. Porém, a sucessão de episódios violentos, que fazem notícia numa base diária, faz temer que os resultados não sejam encarados com o desejável "fair-play" democrático.

Alguns dos factores que estiveram na génese do nacionalismo timorense, como o sistema tradicional de governação que não encaixava no todo da Indonésia, são, igualmente, elementos seminais da divisão que impera e que passa, também, pela falta de entendimento do funcionamento institucional de uma democracia e pelo choque de interesses diversificados. Além, claro, da fatalidade de os líderes, antes unidos na resistência, terem entrado em rota de colisão. Timor-Leste, país sonhado que inspirou idealistas de todo o Mundo, é agora meia ilha atapetada de miséria. Meia ilha entalada entre dois gigantes do mapa político, dificilmente se libertará, em especial, da influência da Austrália, que partilha a exlusividade económica do Mar de Timor. As receitas do petróleo não são as sonhadas, Camberra vai ditando as regras, o jovem país vive na dependência total do exterior. Sem qualquer tecido produtivo digno desse nome, não serão as riquezas naturais a anular por milagre a miséria.

Sem comentários:

Enviar um comentário