sexta-feira, abril 06, 2007
No Debate a seis, Lúcia Lobato "foi a melhor" - Ramos-Horta
Díli, 05 Abr (Lusa) - Seis dos oito candidatos às presidenciais de segunda-feira em Timor-Leste participaram hoje num debate transmitido em directo pela televisão e rádio timorense, em que segundo José Ramos-Horta, Lúcia Lobato "foi a melhor".
"Gostei da intervenção de todos, em particular da candidata feminina", declarou o candidato José Ramos-Horta, o único participante que apontou um vencedor à Agência Lusa no final das três horas de debate.
"Creio que se saiu muito bem. Para mim, foi a melhor", adiantou Ramos-Horta.
No debate transmitido pela RTTL não participaram Francisco Guterres "Lu-Olo", candidato da Fretilin, e Francisco Xavier do Amaral, da Associação Social Democrata Timorense (ASDT).
"O nosso candidato 'Lu-Olo' tem um compromisso com os nossos militantes de Ataúro. Não significa que tentou escapar-se ao debate mas o seu programa com os seus apoiantes é para ser cumprido", justificou à Lusa o vice-secretário-geral da Fretilin, José Manuel Fernandes.
Quanto ao líder da ASDT, não tinha qualquer actividade de campanha anunciada para hoje e não foi dada nenhuma explicação oficial para a sua ausência.
"Lamento bastante a falta dos dois candidatos", referiu à Lusa, no final da transmissão, Lúcia Lobato, sublinhando a ausência de "Lu Olo", "um candidato que é importantíssimo o povo ouvir qual é a sua visão para o futuro do país".
"Ele é o presidente do parlamento e o presidente do partido que está a governar. Lamento, mas 'Lu-Olo' tem o direito de não aparecer", acrescentou Lúcia Lobato, a única mulher concorrente às presidenciais em Timor-Leste.
"Lamenta-se a ausência de dois candidatos, embora o Francisco Xavier do Amaral tenha sido provavelmente por razões de saúde", afirmou também o primeiro-ministro, José Ramos-Horta, agora candidato ao mais elevado cargo da nação.
Com os lugares um e três vazios, os candidatos foram alinhados num estrado pela ordem em que figuram do boletim de voto, da esquerda para a direita: Avelino Coelho, Manuel Tilman, Lúcia Lobato, José Ramos-Horta, João Carrascalão e Fernando "Lasama" de Araújo.
O debate decorreu no Salão Delta Nova, um espaço onde se realizam habitualmente banquetes de casamento, no bairro de Comoro, oeste de Díli.
A RTTL transmitiu em directo as cerca de três horas do debate, pela televisão para a capital e arredores e pela rádio para todo o país, incluindo o enclave de Oécussi, tendo a emissão sido repetida à noite.
O debate seguiu o modelo norte-americano, em que cada candidato fala alguns minutos, com tempo igual para todos, sobre uma série de tópicos previamente definidos.
Cada intervenção foi cronometrada e havia uma sineta que soava quando se atingia o limite do tempo.
Dos tópicos abordados faziam parte a identidade timorense e a língua nacional, a violência doméstica, a crise político-militar de 2006 e a estabilidade do país, Forças Armadas e política externa.
Fernando "Lasama" de Araújo considerou que "a política de divisão criou a crise".
Avelino Coelho referiu a "falta de sensibilidade e incapacidade do Governo e do parlamento" e a "discriminação e divisão" no seio das forças de segurança como origem da crise.
"O Estado não investiu nas forças de segurança nem no diálogo", disse o presidente do Partido Socialista Timorense, acrescentando que "o problema é com instituições de 25 anos de ocupação".
"É um crime não se ter preservado o seu papel como heróis", disse João Carrascalão a propósito dos veteranos da luta contra a ocupação indonésia que, na opinião do candidato da União Democrática Timorense, deviam ter sido recrutados para as forças armadas.
"Perdeu-se a sua dignidade", acrescentou Carrascalão, referindo, no entanto, que a única regra da era "não haver regras".
João Carrascalão criticou ainda a transformação do exército de guerrilha em exército regular e citou como exemplos negativos casos registados em ex-colónias portuguesas de África.
José Ramos-Horta defendeu-se das críticas sobre a política de segurança e defesa dos últimos anos referindo que só ocupa o cargo de chefe do Governo há dez meses.
"Não tive tempo para devolver o orgulho às Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste", afirmou.
Foi Lúcia Lobato quem, mais adiante no debate, defendeu "justiça para os peticionários", os quase 600 militares exonerados das F-FDTL em Março, dando origem à crise que estalou no mês seguinte.
Manuel Tilman declarou que, se for eleito Presidente, dará ordem de saída às Forças de Estabilização Internacionais em Timor-Leste.
"Não digo que isto foi um debate, mas uma apresentação ao público", considerou Fernando "Lasama" de Araújo no final das três horas de emissão.
"Correu muito bem e pudemos entender-nos uns aos outros num ambiente muito amigável", explicou o presidente do Partido Democrático. "Espero que isto vá dizer algo a este povo".
As intervenções confirmaram o pendor da campanha para a abordagem de temas que saem da competência constitucional do poder executivo, mas que todos os candidatos abordaram largamente nas suas propostas para a chefia do Estado.
O debate foi organizado pela Comissão Nacional de Eleições, o Gabinete para a Promoção da Igualdade, a Rede Feto (de organizações timorenses dedicadas à igualdade de género) e a Unifem.
PRM-Lusa/Fim
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