Jornal Noticias (Maputo) - Sábado, 14 de Abril de 2007
David Filipe, em Dili
Os dois observadores que representaram Moçambique nas eleições presidenciais da passada segunda-feira em Timor-Leste deram nota positiva ao processo, embora sublinhando alguns problemas de carácter organizativo que rodearam e salpicaram a campanha eleitoral e o escrutínio. Moçambique fez-se representar por dois observadores integrados nas missões internacionais de observação convidadas para supervisionar o processo pelas autoridades timorenses, nomeadamente Geraldo Chirindza, embaixador moçambicano na Indonésia e em Timor-Leste, e António Carrasco, director do STAE.
Entrevistados em separado pelo "Notícias" em Díli, para uma primeira avaliação da forma como decorreram as segundas eleições presidenciais em Timor-Leste, Chirindza e Carrasco convergiram na apreciação positiva do processo, embora o director do STAE tenha considerado que a violência registada durante a campanha eleitoral "manchou de certa maneira o processo", porque nalguns casos ela "foi premeditada e planeada".
"De uma forma geral, o processo foi positivo", considerou António Carrasco, reconhecendo, todavia, que durante a campanha eleitoral "houve muita violência", sobretudo entre os seguidores dos dois principais candidatos, Ramos-Horta, apoiado pelo presidente da República, Xanana Gusmão, e pela Igreja Católica timorense, e Francisco Guterres "Lu Olo", candidato da FRETILIN, o partido governamental.
Carrasco censurou o apoio assumido e público do Chefe do Estado timorense à candidatura de Ramos-Horta. Mais grave ainda, segundo Carrasco, foi o facto de o candidato presidencial ter repetidamente violado a própria Constituição timorense e a Lei Eleitoral do país, durante a sua campanha eleitoral.
O perito moçambicano reprovou ainda o alegado "tratamento desigual" dispensado pelo Chefe do Estado aos oito candidatos à sua sucessão, com Xanana Gusmão a apelar publicamente ao povo "para votar maciçamente em Ramos-Horta".
Ramos-Horta o favorito
"Por outro lado, da análise que fizemos, como observadores deste processo, constatámos que cerca de 80 porcento das notícias diárias divulgadas pela "media" local favoreciam claramente a candidatura do dr. Ramos-Horta ", denunciou António Carrasco, condenando também o facto de o bispo de Díli ter aparecido publicamente com este candidato nas vésperas da votação, numa acção de propaganda eleitoral.
"Isto é claramente uma violação à Lei Eleitoral timorense, que, infelizmente, nenhum órgão dos que supervisionam o processo apareceu a denunciar", disse.
Numa análise específica ao desempenho da Comissão Nacional de Eleições (CNE), António Carrasco elogiou o seu trabalho, mas censurou a parcialidade do seu porta-voz, "que nos seus pronunciamentos institucionais, antes e depois da votação, apareceu várias vezes com um discurso que denunciava o seu sentido de voto, favorável ao dr. Ramos-Horta. Isso é uma atitude condenável. É uma forma de influenciar o próprio processo eleitoral. A CNE é uma instituição imparcial, que deve dar tratamento igual a todos os candidatos. Infelizmente, não foi isso que verificámos aqui em Díli, onde o padre Martinho Gusmão tem feito pronunciamentos que ameaçam a estabilidade do processo eleitoral", considerou António Carrasco.
O director do STAE foi igualmente peremptório quando lhe perguntámos se esses problemas terão de certa forma influenciado o resultado final da votação: "Não tenho dúvida nenhuma", respondeu, acrescentando: "Com estas manipulações, o maior valor acrescentado vai, sem dúvida, para Ramos-Horta.
Por isso, para Carrasco, estas eleições foram, sim, pacíficas, ordeiras e transparentes, "mas não foram justas, porque o tratamento aos candidatos não foi igual".
O embaixador Geraldo Chirindza preferiu, por seu turno, destacar o grande civismo demonstrado pelos eleitores neste processo, considerando que mais uma vez o povo de Timor-Leste provou ao mundo e aos seus políticos que o que quer é a paz e estabilidade do seu país.
"Ao dirigirem-se em massa e de forma ordeira às mesas de votação, os timorenses fizeram uma demonstração inequívoca de que querem a paz e estabilidade do seu martirizado país", referiu Chirindza, destacando o facto de vários eleitores terem percorrido longas distâncias a pé para ir votar na assembleia eleitoral mais próxima.
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