Estadão (Brasil)/Reuters – 11 de abril de 2007 - 10:43
Votação presidencial de segunda foi pacífica e país enfrentará incerteza em 2º turno
Dili - A eleição presidencial do Timor Leste deve ser disputada em segundo turno entre o primeiro-ministro José Ramos-Horta e o líder parlamentar Francisco Guterres, segundo resultados preliminares divulgados nesta quarta-feira, 11, o que aumenta a incerteza no país, que ainda tenta se unir após um ano de crise.
A votação de segunda-feira foi em geral pacífica, mas o país continua, cinco anos após sua independência, profundamente dividido. Em maio, foi necessária a vinda de tropas estrangeiras para restaurar a ordem depois de um motim provocado pela demissão de 600 soldados do oeste do país.
"A situação mais provável é que o sr. Lu-Olo (apelido de Guterres) e o sr. Ramos-Horta vão para o segundo turno", disse o porta-voz da comissão eleitoral, Martinho Gusmão, a jornalistas.
Antes, ele dissera que 70 por cento dos votos haviam sido apurados, mas na quarta-feira recusou-se a divulgar uma nova percentagem, dizendo apenas que a cifra se baseava em 357.776 votos válidos. Havia quase 500 mil timorenses aptos a votar.
Guterres, cujo partido Fretilin tem mais penetração nas zonas rurais, tinha 29 por cento dos votos, contra 23 por cento de Ramos-Horta. Fernando Araújo, do Partido Democrático, caiu para 19 por cento. O segundo turno será em 8 de maio.
Cinco candidatos, inclusive Araújo, pediram recontagem, alegando irregularidades disseminadas, e disseram que do contrário não vão aceitar o resultado. "Queremos dizer ao público que não estamos contentes," disse o candidato.
Mas o observador Javier Pomes Ruiz, da União Européia, disse em entrevista coletiva que a eleição em geral transcorreu bem, com alto comparecimento.
"A opinião da missão de observação da UE em geral é de que o nível de violência e intimidação não é suficiente para mudar a opinião de um processo pacífico e ordeiro", afrmou.
Ramos-Horta, que já ganhou o Nobel da Paz e tem mais reconhecimento internacional que o ex-guerrilheiro Lu-Olo, disse temer que o Fretilin, se vitorioso, irá demonstrar hostilidade com vizinhos como a Austrália.
"O governo da Fretilin tem pouca sensibilidade para a região", disse Ramos-Horta, defendendo a permanência de forças australianas e de outros países no Timor Leste.
O Fretilin, de orientação socialista, foi o principal grupo na luta contra os 24 anos de dominação indonésia e atualmente controla o Parlamento. Ramos-Horta abandonou o partido e se tornou um político independente quando ainda estavam no exílio.
Julio Thomas, analista político da Universidade Nacional de Timor Leste, minimizou a possibilidade de distúrbios imediatos. "A perspectiva de violência mesmo que o candidato do Fretilin perca é mínima. Mas será mais perigoso se o Fretilin perder nas eleições parlamentares (previstas para 30 de junho). Pode haver caos."
Seguidores de candidatos rivais entraram em confronto na última semana de campanha, deixando mais de 30 feridos e levando as tropas internacionais a usarem gás lacrimogêneo e tiros de advertência.
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