quarta-feira, março 21, 2007

"Timor perdeu credibilidade", diz Mari Alkatiri

Pedro Rosa Mendes, Agência Lusa Díli, 20 Mar (Lusa) - O ex-primeiro-ministro e secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, considerou hoje numa entrevista à Agência Lusa que "Timor-Leste perdeu credibilidade" com os acontecimentos de 2006.

"A nível regional e internacional, Timor-Leste perdeu um pouco de credibilidade e tem de voltar a ganhá-la. A nível doméstico, interno, todos perderam" com a crise política e militar de Abril e Maio de 2006 e "quem mais perdeu foi o povo", afirmou Alkatiri.

A crise, desencadeada pela exoneração, em Março de 2006 de cerca de 600 elementos das Falintil/Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), culminou com a queda do I Governo Constitucional liderado por Mari Alkatiri, a 26 de Junho.

"O último ano foi extremamente melancólico e triste para todos nós. É importante que cada líder reflicta sobre a sua contribuição para empurrar de novo o país para trás não sei quantos anos", afirmou Mari Alkatiri.

O ex-primeiro-ministro insistiu, no entanto, que a crise "é fruto de um golpe não concluído, de uma conspiração muito bem montada".

"Timor-Leste estava a ser um "mau exemplo" para a região, particularmente para o lado do Pacífico. É um país pequeno, que aparece a querer ser independente e a defender os seus recursos, com todas as suas forças, usando o Direito. Nós habituámo-nos a isso quando lutámos pela independência nacional durante 24 anos", explicou.

Sobre o partido que lidera, Mari Alkatiri disse não encontrar reflexos negativos da crise para a Fretilin, sobretudo num ano de eleições presidenciais (marcadas para 09 de Abril) e legislativas.

"O que se pretendeu com esta crise foi descredibilizar a Fretilin e a sua liderança. Como quem o fez não conseguiu credibilizar-se, antes pelo contrário, quem mais ganhou foi a Fretilin e a sua liderança", sustentou Mari Alkatiri.

O ex-primeiro-ministro garantiu, nesse sentido, que a direcção da Fretilin "não perdeu autoridade" junto dos seus militantes.

"De outro modo, não teríamos tido capacidade de controlar os militantes e exigir deles tolerância e contenção", sublinhou Mari Alkatiri.

A Comissão Especial Independente de Inquérito aos acontecimentos de 2006 recomendou a abertura de um processo contra Mari Alkatiri, suspeito de envolvimento na entrega de armas a civis pelo então ministro do Interior timorense, Rogério Lobato.

O arquivamento do processo por falta de provas foi anunciado no início de Fevereiro.

Mari Alkatiri afirmou que o caso o afectou "a título pessoal, sobretudo familiar, e também a nível do partido".

Ressalvou, no entanto, que as "dúvidas de algumas franjas dentro da Fretilin" ficaram esclarecidas.

Mari Alkatiri defendeu também que os acontecimentos e as decisões de 2006 devem ser "contextualizados" numa perspectiva política e não apenas jurídica.

"Estávamos na altura numa situação de desordem pública, não de ordem pública", explicou o ex-primeiro-ministro, aludindo ao colapso da Polícia Nacional.

"A Polícia é uma instituição recente. Se não houve implosão nas Forças Armadas, isso deve-se à sua própria história. De onde vieram as F-FDTL? Há uma certa solidez institucional por parte do comando que veio do tempo da guerrilha", justificou.

Para o secretário-geral da Fretilin, as instituições herdadas da Resistência são as que funcionam no pós-independência.

"Num país que se torna independente através de uma luta prolongada, as instituições ligadas à luta são vitais nos primeiros anos da independência para consolidar o resto do Estado", explicou o ex-primeiro-ministro.

"A comunidade internacional tem a tendência de ver sempre o contrário. Quer desligar o país da sua história de luta", concluiu Mari Alkatiri.

PRM-Lusa/fim

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