Diário de Notícias – Quinta, 1 de Março de 2007
Ruben de Carvalho
Ao fim de mais de quatro décadas de jornais, rádios, televisões e outras deambulações profissionais, mantenho certa perplexidade face à forma como se desenvolve aquilo a que se convencionou chamar a "agenda" da comunicação social, o agenda setting que a investigação anglo-saxónica coloca no centro do processo de comunicação de massas.
Note-se que se escreveu "se desenvolve" e não, como poderia ser plausível, qualquer interrogação do estilo "quais são os critérios".
A primeira questão é exactamente a de que a experiência ensina que o estabelecimento desta agenda é um processo de certa forma elusivo, evidentemente subsidiário de padrões ideológicos dominantes, mas que adquire uma espécie de autonomia face aos próprios critérios profissionais, à sua aplicação e às suas opções.
Vem isto a propósito de um assunto que ainda há poucos meses ocupou primeiras páginas e prime times noticiosos e que entretanto praticamente desapareceu. Na certeza de que seguramente nenhum jornalista português o considerará irrelevante ou desinteressante: Timor.
E com Timor passou-se um conjunto de situações que não podem passar sem comentário.
Note-se como, após uma primeira fase intensamente noticiosa sobre um puro e simples golpe de Estado, se verificou o mais absoluto silêncio.
Pode argumentar-se que o facto de aparentemente o golpe ter atingido os seus fins acabou a determinar uma estabilização pouco propícia à criação de factos novos, de notícias. Mas pela ordem natural do ritmo informativo, ao período noticioso mais agitado seguir-se-iam trabalhos mais extensos, documentados, procurando enquadramento, explicação, pormenorização de um processo que, ainda por cima, teve contornos mais que confusos.
Ora essa foi a primeira ausência e, no fundo, política e informativamente mais significativa. Pese que na violência, contra pessoas e bens, esteve longe de desaparecer.
Entretanto, um nada inocente palhaço a que o Expresso deu foros de herói, o "major" Reinado, reaparece - e voltam as notícias.
Explicações - nenhumas. E precisam-se.
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