quarta-feira, março 21, 2007

Alkatiri diz que sigla CNRT foi usada "abusivamente" por Xanana

Díli, 20 Mar (Lusa) - Mari Alkatiri, ex-primeiro-ministro e secretário-geral da Fretilin, afirmou hoje à Agência Lusa que a sigla CNRT foi "abusivamente usada" pelo novo partido do presidente cessante de Timor-Leste, Xanana Gusmão.
"Vai ser interessante (a luta entre a Fretilin e o CNRT para as eleições legislativas). É pena que tenham usado um nome que não deviam, até porque o CNRT (Conselho Nacional da resistência Timorense) nasceu com uma Magna Carta e o autor dessa Magna Carta sou eu", afirmou.


O novo partido do Presidente da República cessante, ainda não apresentado oficialmente, usa a mesma sigla que o Conselho Nacional da Resistência Timorense, mas o nome está ainda por oficializar.

No passado, a CNRT foi o órgão histórico formado para aglutinar todas as forças políticas da Resistência timorense.

Para Alkatiri, o uso da mesma sigla por um partido político "é muito enganador, pouco honesto e esconde atrás disso uma intenção desmedida". "Nunca pensei", sublinhou Mari Alkatiri, afirmando-se "magoado" com a coincidência de nomes.

"Acho que Xanana tem envergadura suficiente para iniciar uma nova sigla", adiantou o ex-primeiro-ministro, levado a demitir-se a 26 de Junho de 2006 após a crise política e militar.

"Xanana Gusmão tem um passado que pode até dar-lhe mais credibilidade. Não precisa de ir à procura de siglas que são de todos para se apropriar" delas", insistiu.

Sobre o seu próprio partido, Mari Alkatiri defendeu que a Fretilin "tem energia e capacidade e, já o demonstrou durante a luta, em ir-se renovando".

"Povos como os nossos jogam muito com capitais simbólicos. Uma morte precoce de um capital simbólico contribui muito negativamente para a consolidação da nação e do Estado", analisou o secretário-geral do maior partido timorense.

Para Mari Alkatiri, "a Fretilin é um capital simbólico deste país, não é só uma instituição como qualquer outra".

"Por isso eu vou terminar a carreira política na Fretilin e depois serei um advogado de causas justas", concluiu.

Sobre a acusação de ser líder de um partido comunista, Mari Alkatiri diz que, "no mundo de hoje", já não sabe o que isso significa.

"Eu ainda sei o que significa ser capitalista. Agora, ser comunista já não sei. Mesmo os capitalistas, o que falam é em acabar com a pobreza, em saúde para todos, até já falam em água potável e electricidade. Mesmo o Banco Mundial. Portanto, estamos todos no mesmo barco", sublinhou.

Questionado sobre o papel da Igreja Católica, que liderou em vários momentos a oposição ao governo da Fretilin, Mari Alkatiri espera que "não seja uma força política" nas próximas eleições.

"Senão, há duas facções políticas com os mesmos militantes", afirmou o ex-primeiro-ministro.

"Os católicos são 95 por cento da população e a Fretilin é o partido maioritário deste país. Também são católicos, tirando eu e poucos mais.

Significa que são duas forças políticas com os mesmos militantes", adiantou.

"A igreja não se candidata, penso eu", disse ainda o fundador da Fretilin, rindo.

"A verdade é que a militância por uma religião tem por objectivo conquistar o reino dos céus. A militância por uma organização política tem por objectivo fazer da terra o céu", sustentou Mari Alkatiri.

PRM-Lusa/fim

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