terça-feira, fevereiro 20, 2007

Exército indonésio armou milícias - diz ex-comandante das Aitarak

Lisboa, 18 Fev (Lusa) - Um ex-comandante das antigas milícias que operaram em Timor-Leste admitiu hoje que o exército indonésio forneceu armas aos seus homens em 1999, durante a campanha que antecedeu o referendo sobre a independência.

Em declarações feitas na primeira sessão das audiências da Comissão de Verdade e Amizade (KPP), Mateus Carvalho, que admitiu ter tido 1.500 homens sob seu comando, sublinhou que as milícias Aitarak, chefiadas por Eurico Guterres, eram coordenadas à distância pelo exército indonésio.

Na sessão, que decorre em Bali, Indonésia, Mateus Carvalho justificou ter pedido armas ao exército indonésio dado que os seus homens necessitavam de garantir a sua segurança e a das suas famílias.

Por seu turno, o antigo chefe da a diplomacia indonésia Ali Alatas, que também depôs hoje perante a comissão, afirmou que a segurança do referendo em Timor-Leste foi garantida pela polícia e não pelo exército.

Mateus Carvalho reforçou as suas declarações sublinhando que, como antigo soldado do exército indonésio, era-lhe mais fácil obter armas através das Forças Armadas e não da polícia.

A KPP foi criada em Agosto de 2005 para apurar responsabilidades na violência em Timor-Leste nos meses que precederam o referendo sobre a independência e nas semanas que se seguiram ao anúncio da vitória do "sim".

Perante a KPP, Ali Alatas afirmou também que foi uma carta do primeiro-ministro australiano, John Howard, que esteve na origem do referendo de Agosto de 1999.

O antigo chefe da diplomacia indonésia explicou que a missiva de John Howard enfureceu o então Presidente da Indonésia, Bacharuddin Jusuf Habibie, levando-o a decidir pela realização imediata do referendo em Timor-Leste, em vez de uma transição progressiva sob controlo de Jacarta.

A comissão ouviu também hoje um antigo chefe de um grupo de aldeias (suco) que foi comandante da Companhia D da milícia Aitarak ("espinho"), acusado de atacar a residência do Bispo D. Ximenes Belo, a 06 de Setembro de 1999, e uma das vítimas do ataque à igreja de Liquiçá, a 06 de Abril do mesmo ano.

O comandante das milícias disse que em 1999 tinham armas emprestadas por um órgão do Exército indonésio, o CODIM do distrito de Díli.

Terça-feira, a comissão ouvirá o embaixador da Indonésia em Lisboa, Francisco Lopes da Cruz.
O presidente timorense, Xanana Gusmão, e o ex-chefe de Estado indonésio, BJ Habibie, indicaram já que não tencionam comparecer nas audiências.

A KPP espera poder ouvir os testemunhos de cerca de 70 pessoas, incluindo o antigo comandante das Forças Armadas Indonésias (TNI), general Wiranto, e o líder das milícias integracionistas timorenses, Eurico Guterres.

JSD/PRM-Lusa/Fim

1 comentário:

  1. A distribuição de armas pelos militares e polícias indonésios ficou demonstrada em frente ao Hotel Timor e em Maliana aos olhos de jornalistas. Vários livros que falam sobre o acontecido em 1999, escritos por jornalistas de diversas nacionalidades, são claros no testemunho dos autores nessas entregas.

    Mais longe até poderíamos ir pois é fácil falar de outros factos que até hoje têm sido ignorados pela comunidade internacional.

    Ninguém fala dos militares que assassinaram o jovem timorense na zona do Audian, antes da ponte, onde uma sequência fotográfica mostra o rapaz a ser executado a tiro pelo bravos indonésios. Também o jornalista Sanders do FTimes foi executado esquartejado em Bécora, sabemos quem foi mas ninguém actua. São apenas dois exemplos e um terceiro das freiras e do jornalista católico em Lautem com testemunhas que viram quem matou.

    1999 é uma anedota na condenação aos assassinos indonésios com os seus amigos timorenses - alguns dos quais hoje são ilustres figuras da oposição em Timor-Leste. No entanto, muitos destes senhores estão a fazer o que podem para atacar a soberania promovendo e pagando para que os jovens destruam o património e ceifem vidas.

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