quinta-feira, janeiro 11, 2007

Timor-Leste: Principal testemunha de acusação omite Alkatiri

Diário Digital / Lusa

10-01-2007 14:02:00

A principal testemunha no processo da alegada distribuição de armas a civis em Timor-Leste entrou hoje em contradição em relação à fase de instrução, ao omitir o nome do ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri como estando envolvido no caso.

Na terceira sessão do julgamento do ex-ministro do Interior Rogério Lobato, a decorrer em Díli, Vicente da Conceição «Railós» não foi, designadamente, capaz de manter as declarações proferidas em sede de instrução, quando acusou Mari Alkatiri de ser o mentor da alegada distribuição de armas a civis.

Ao longo das cerca de 500 páginas que constituem o processo, em que Rogério Lobato é o principal arguido, avultam as referências ao alegado envolvimento de Mari Alkatiri.

Vicente da Conceição, antigo combatente da resistência contra a ocupação indonésia de Timor-Leste, refere-se a Alkatiri em dois documentos apensos ao processo, a que a Lusa teve acesso.

O primeiro é uma carta com data de 28 de Maio de 2006, que escreveu ao Presidente da República, Xanana Gusmão, e o segundo são as declarações que fez perante dois procuradores, a 19 de Junho do mesmo ano, quando iniciou o processo de colaboração com o Ministério Público timorense, tendo em vista a denúncia dos responsáveis pela distribuição de armas.

Nesses dois documentos, Vicente da Conceição identifica Alkatiri como o mandante da distribuição de armas a civis, com o propósito de eliminar adversários políticos.

Mas hoje, em tribunal, Vicente da Conceição citou unicamente Rogério Lobato, não tendo querido colaborar com o tribunal para ser mais preciso e para justificar por que razão acusou antes Mari Alkatiri e agora o faz relativamente a Rogério Lobato.

Mari Alkatiri, que se demitiu do cargo de primeiro-ministro em Junho, foi constituído arguido num processo separado do de Rogério de Lobato também relacionado com a distribuição de armas a civis.

Em Dezembro, fonte judicial em Díli disse à Lusa que o processo contra Alkatiri foi arquivado, mas a decisão ainda não foi anunciada oficialmente.

Num relatório sobre a violência ocorrida em Timor-Leste em Abril e Maio de 2006, divulgado em Outubro, uma comissão de investigação da ONU recomendou investigações adicionais a Mari Alkatiri para apurar se o ex-primeiro-ministro devia ser acusado criminalmente pela distribuição de armas.

Noutra parte do seu depoimento, já na fase das questões colocadas por Paulo Remédios, advogado de defesa do ex-ministro do Interior, Vicente da Conceição escusou-se repetidamente a explicar por que razão nos dias 23 e 24 de Maio de 2006, quando se confrontava com militares leais ao Governo, na zona de Tibar, a oeste de Díli, trocou mensagens com um número de telefone.

Vicente da Conceição identificou em tribunal o número, que está atribuído à Presidência da República, mas alegou desconhecer o seu proprietário.

O julgamento prossegue quinta-feira, com a audição da segunda testemunha arrolada pelo Ministério Público.

Trata-se de António Cruz, comandante ao tempo da Unidade de Patrulhamento de Fronteira, corpo especializado da Polícia Nacional de Timor-Leste.

António Cruz é citado por Vicente da Conceição como tendo sido o autor material da entrega de armas e demais material militar para equipar o grupo de civis que criou, alegadamente sob indicação de Rogério Lobato.

À semelhança da sessão de terça-feira, efectivos da Polícia das Nações Unidas (UNPOL) montaram um sistema de segurança do Tribunal de Recurso, onde decorre o julgamento, não se tendo, todavia, verificado a concentração de apoiantes de Rogério Lobato, ocorrida na véspera.

Sem comentários:

Enviar um comentário