Diário de Notícias, 17/12/06
Uma sessão de cinema reuniu ontem, em Jacarta, o Presidente de Timor-Leste, Xanana Gusmão, e o antigo chefe das forças armadas indonésias, Wiranto, acusado de crimes contra a humanidade pela sua actuação em 1999, ano do referendo que conduziu à independência daquela ex-colónia portuguesa.
Wiranto, hoje general na reserva, sentou-se ao lado de Xanana para assistir à projecção de “A hero’s journey” (de Singapura), sobre o antigo líder da guerrilha, preso durante anos pela Indonésia, antes de assumir a chefia do Estado timorense.
A longa-metragem acompanha Xanana no seu regresso aos locais onde chefiou a luta contra as forças indonésias, que ocuparam Timor-Leste entre Dezembro de 1975 e 1999.
No filme, Xanana visita também a prisão de Cipinang, onde esteve preso durante os anos 90, e explica a sua política de reconciliação face a um grupo de timorenses, que exigem processos judiciais contra os responsáveis pela repressão.
Em Agosto de 1999, Timor-Leste votou em massa pela independência. As milícias pró-indonésias, apoiadas e armadas pelo exército de Jacarta, chefiado por Wiranto, mataram então pelo menos 1400 pessoas e destruíram 80 por cento das infra-estruturas do país.
No final da sessão, Wiranto considerou o filme “comovente”. “O tema do perdão e da reconciliação é muito bom. Temos necessidade disso”, afirmou.
Xanana garantiu que o documentário não tinha como objectivo “desacreditar a Indonésia”. “Devemos olhar para o futuro e não para o passado”, disse.
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Jacarta, Ali Alatas, que também assistiu à sessão, afirmou que o filme “deveria ser visto pelo maior número possível de indonésios”.
A questão das atrocidades cometidas pelo exército e pelas milícias pró-indonésias ainda é muito sensível. Por isso, mais três filmes sobre Timor foram retirados do festival de Jacarta.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário