Ponto Final - 16/11/06 - 16:34
Rodolfo Ascenso
Uma das entidades que tinha bens recolhidos pela Campanha de Ajuda a Timor 2006 cansou-se de esperar pelo envio do que tinha à sua guarda e anunciou ter entregue cerca de trinta sacos de arroz à Caritas Macau. Paulo Remédios, o responsável pela campanha em Macau, diz que o dinheiro necessário para o transporte, que agora admite ser por via marítima, está para chegar, mas a ministra que recebeu a verba da Fundação Macau diz que esse dinheiro nunca se destinou a transportes.
A Agência Comercial Pico, que tinha disponibilizado aos organizadores da recolha de bens alimentares para Timor-Leste um armazém para guardarem os produtos recolhidos, cansou-se de esperar e entregou à Caritas Macau os cerca de trinta sacos de arroz que tinha à sua guarda.
Em anúncio pago colocado ontem na imprensa, a Agência Pico informa que “não conseguindo contactar a pessoa responsável” pelos bens, “transportámos tudo para a Caritas, havendo um recibo para o comprovar”.
Termina assim parte da saga dos bens recolhidos em Maio e que depressa se percebeu que dificilmente chegariam ao destinatário.
A campanha de recolha de bens, onde se envolveram cidadãos de Macau com a melhor das boas vontades mas que, dadas algumas personalidades envolvidas, manteve afastadas outras que habitualmente não se furtam a estas acções, começou envolta em dúvidas, desde logo sobre quem a conduzia.
Depois, o Embaixador timorense em Pequim, Olímpio Branco, assumiu a responsabilidade pela Campanha de Ajuda a Timor 2006 (CAT2006), delegando publicamente em Paulo Remédios, um advogado timorense, a condução da acção em Macau. Numa primeira fase Remédios, efectivamente, tratou do processo, mas rapidamente desapareceu. Logo em Junho a agência Lusa noticiava as dificuldades em contactar o timorense, quando procurava saber a data do transporte. Embora inicialmente tivesse sido dada como garantida, a verdade é que ele nunca apareceu.
Uma das questões que fontes conhecedoras do processo, que pediram anonimato, disseram ao PONTO FINAL estranhar, foi a necessidade, aventada desde a primeira hora, de o transporte ser feito de avião. Sabendo-se que o transporte por via aérea é consideravelmente mais caro que o por via marítima, essas fontes questionam por que razão não se carregaram os contentores com as anunciadas 40 toneladas de bens num barco com destino a Timor.
Estranham ainda que Paulo Remédios e os restantes membros da comissão, a partir do momento em que a situação acalmou, tenham deixado de fazer diligências para enviar os bens.
Como o PONTO FINAL noticiou a 13 de Junho, “Paulo Remédios afirmou que foi contactado por um ministro de Díli no sentido de coordenar a entrega dessa ajuda, uma oferta que a CAT2006 rejeitou”, por considerar que o Governo timorense não tinha capacidade para o fazer.
Houve ainda um pedido de ajuda financeira, supostamente feito pelo embaixador de Timor-Leste em Pequim ao Executivo de Macau, para desbloquear a situação. Ao que se soube, a Fundação Macau veio a disponibilizar 100 mil dólares. Essa verba, segundo Olímpio Branco, não era suficiente para fretar os dois aviões necessários. Na altura em que a questão estava acesa, o diplomata lançou acusações ao ministério das Finanças de Timor-Leste, a quem responsabilizava pelo facto de a verba ainda estar em Macau. Na ocasião (22 de Julho), a titular da pasta, Madalena Boavida, dizia ao PONTO FINAL que o número da conta bancária do governo timorense, onde a verba deveria ser depositada, já tinha sido enviada.
Contactado ontem pelo PONTO FINAL, Paulo Remédios disse desconhecer em pormenor a situação dos bens à guarda da Agência Pico, desvalorizando, contudo, a importância do facto por se tratarem de “poucos artigos”, no conjunto das “66 toneladas angariadas”. Remédios, disse ainda ter recebido recentemente a garantia, por parte de “dois membros do Governo de Timor”, a garantia de que a verba necessária para o “transporte marítimo” dos bens seja disponibilizada muito em breve. Paulo Remédios considera que toda a situação começa a ser “uma vergonha”.
Ontem ainda, em contacto telefónico feito com Díli, Madalena Boavida informou o PONTO FINAL ter efectivamente recebido os 100 mil dólares provenientes de Macau, mas que estes foram uma “ajuda financeira” e nunca estiveram destinados a nenhum frete de aviões ou outro tipo de transporte.
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