Diário de Notícias, 13/11/06
A crise que Timor-Leste atravessa condicionou ontem as comemorações do 15.º aniversário do massacre de Santa Cruz - acção repressiva indonésia que voltou a chamar a atenção do mundo para a situação de ocupação naquela antiga colónia portuguesa.
A ocasião ficou marcada por uma fraca afluência de populares, em relação ao ano passado, mas também de convidados, entre os quais o próprio chefe do Estado timorense, Xanana Gusmão, de acordo com a agência Lusa.
As comemorações iniciaram-se com a celebração da missa, tal como há 15 anos, pelo mesmo padre, actualmente o bispo de Díli, D. Alberto Ricardo da Silva. E prosseguiram com uma marcha em direcção ao cemitério de Santa Cruz, local onde, em 1991, pelo menos 271 pessoas morreram e 382 ficaram feridas. Até hoje continuam desaparecidas outras 250.
As cerimónias realizaram-se de acordo com o programa estabelecido, mas dos discursos previstos apenas se ouviu o do vice-primeiro-ministro, Estanislau da Silva, em representação do chefe do Governo, José Ramos-Horta (de visita a Baucau/Leste do país). Além de Xanana, também não compareceram outros membros do Executivo timorense e embaixadores, tendo a comissão organizadora justificado a fraca afluência com a crise.
As celebrações foram discretamente acompanhadas por efectivos da polícia das Nações Unidas e por militares australianos - no país após a crise que começou em Abril e levou à substituição de Mari Alkatiri à frente do Governo timorense.
No interior do cemitério, três homens com uma fotografia emoldurada prestavam a sua homenagem às vítimas do massacre, mas igualmente a Sebastião Gomes, cujas cerimónias fúnebres, realizadas a 12 de Novembro de 1991, espoletaram a repressão indonésia.
"Eu recebi a carta [de Xanana Gusmão] a 8 [de Novembro] e a 10 fizemos uma reunião da rede clandestina para preparar a manifestação. Na noite anterior ao massacre confirmei que tudo estava preparado", contou à Lusa Gregório Saldanha, o organizador da marcha em homenagem de Sebastião Gomes.
O jovem timorense tinha sido morto no dia 28 de Outubro, durante um ataque à igreja de Motael levado a cabo pelas milícias timorenses pró-integração, que contavam com a presença de agentes da Intel, os serviços de contra-espionagem da Indonésia.
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