Liquiça, Timor-Leste, 20 Out (Lusa) - Vicente da Conceição "Railós", líder de um alegado "esquadrão da morte", disse hoje à Lusa que está satisfeito por terem sido as suas denúncias a desencadear a necessidade de se investigar a violência registada em Timor-Leste.
Numa entrevista feita num terreiro frente à igreja de Liquiça, 30 quilómetros a oeste de Díli, o comandante "Railós" acrescentou que está pronto a responder em tribunal às acusações que lhe são apontadas no relatório da Comissão Espec ial de Inquérito Independente da ONU, divulgado terça-feira, e que aceita ir para a prisão.
No relatório, "Railós" é acusado de estar envolvido na morte de pelo menos nove pessoas em Taci Tolu, arredores de Díli, a 24 de Maio.
Antigo comandante na luta contra a ocupação indonésia, Vicente da Conceiçã o tornou-se numa das peças-chave da crise político-militar em Timor-Leste quando acusou o então primeiro-ministro Mari Alkatiri e também o então ministro do Int erior Rogério Lobato de estarem envolvidos no processo de distribuição de armas a civis.
Segundo "Railós", as armas e outro equipamento militar que lhe foram distr ibuídas serviriam para proceder à eliminação física de adversários políticos do ex-chefe do governo timorense, alegação que Mari Alkatiri tem repetidamente negado.
"Estou pronto para ir a tribunal. Aceito, na globalidade, as conclusões do relatório, que me deixou satisfeito porque significa que vai ser feita justiça" , frisou.
Questionado sobre se aceitará uma condenação em tribunal, com consequente pena de prisão, respondeu afirmativamente, sublinhando: "Aceito. Considero que os responsáveis, incluindo eu, se forem apresentadas provas em tribunal, devem ir para a prisão".
A Comissão das Nações Unidas recomendou processos judiciais contra alguns dos intervenientes na crise em Timor-Leste, incluindo dois ex-ministros e o comandante das forças armadas, bem como uma investigação adicional para apurar eventuais responsabilidades criminais de Mari Alkatiri.
Num relatório de 79 páginas, a comissão, liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, considera que "a crise que ocorreu no país pode ser explicada em grande medida pela debilidade das instituições do Estado e pela fragilidade do primado da lei".
Relativamente a Mari Alkatiri, a comissão considera que "não usou a sua autoridade firme para denunciar a transferência de armas do sector de segurança a civis" e que, apesar de não ter provas sobre o seu envolvimento pessoal, recebeu informações que "levam à suspeita" de que o ex-primeiro-ministro e líder da FRETILIN sabia da distribuição ilegal de armas da polícia por Rogério Lobato.
"Em conformidade, a comissão recomendou uma investigação adicional para de terminar se o antigo primeiro-ministro Mari Alkatiri deve ser responsabilizado criminalmente", lê-se no relatório da comissão da ONU, que diz não aceitar a alegação de que Alkatiri deu instruções para que fosse eliminados os seus adversários políticos.
Reafirmando que a crise foi "causada na totalidade" por Mari Alkatiri, "Railós" desvaloriza os protestos de inocência do ex-primeiro-ministro.
"Cada um conta agora a sua versão, mas no tribunal vamos saber quem fala verdade", vincou.
Vicente da Conceição, que destacou ainda o facto de não se ter registado nenhuma violência relacionada com a divulgação do relatório da ONU, "como alguns julgavam que ia acontecer", está arrependido de alguns dos seus actos, que se escusou a especificar, remetendo explicações adicionais para o tribunal.
"Como civil estou arrependido, mas também estou contente por as minhas denúncias terem servido para iniciar este processo de investigação", salientou.
EL-Lusa/Fim
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