sábado, outubro 14, 2006

Está para sair o relatório da ONU sobre a crise em Timor-Leste

ABC Radio – Quinta-feira, 12 Outubro , 2006 12:10:00
Transcrição do Programa 'The World Today'

Repórter: Anne Barker

PETER CAVE: O International Crisis Group com base em Bruxelas avisou que um relatório da ONU sobre a crise política e de segurança em Timor-Leste será explosivo e poderá desencadear outro ciclo de violência grave.

O relatório da ONU está previsto sair dentro de dias, e espera-se que indique nomes dos responsáveis pelo turbilhão recente.

O Crisis Group, liderado pelo antigo ministro dos estrangeiros Gareth Evans, também apelou ao Presidente Xanana Gusmão para pensar o impensável e sair da política no interesse da sua nação.

Anne Barker relata.

ANNE BARKER: Passaram seis meses desde que Timor-Leste caiu na violência, com tumultos provocados pelo despedimento de perto de 600 soldados.

Nos meses seguintes, cerca de 30 pessoas foram mortas, um Primeiro-Ministro resignou e dezenas de milhares de pessoas estão ainda a viver em campos de deslocados em Dili.

E enquanto o país ainda luta para se pôr de pé, o International Crisis Group avisou que o pior período da curta história da independência de Timor-Leste ainda não terminou.

Na Rádio Austrália, Sidney Jones a directora da Àsia do Sudeste do grupo disse que Timor-Leste manter-se-á no limbo enquanto espera os resultados do inquérito da ONU ao turbilhão recente.

SIDNEY JONES: Estão todos à espera de ver quem será responsabilizado por diferentes incidentes e ninguém quer fazer qualquer movimento em direcção, por exemplo, à reestruturação dos serviços de segurança ou ao processamento de alguém que foi responsável por qualquer coisa que tenha acontecido desde Janeiro até agora, até essas descobertas saírem.

ANNE BARKER: O ICG aponta numerosas causas para a crise de Timor-Leste, incluindo anos de lutas internas não resolvidas no seio do partido no poder, a Fretilin, a politização das forças de segurança do país e as rivalidades entre a Fretilin autoritária e o Presidente, Xanana Gusmão, sem poderes.

É alargadamente esperado que o relatório da ONU acuse cerca de 100 figuras políticas de topo e das forças de segurança, e recomende que muitos enfrentem acusações criminais.

Sidney Jones diz que as descobertas serão explosivas.

SIDNEY JONES: Se sugerir que uma pessoa do campo de Alkatiri, por exemplo, foi responsável por alguns incidentes, vão ficar muito infelizes.

Se o próprio Mari Alkatiri for inocentado, pessoas que acreditam que ele ou a Fretilin em termos mais gerais estiveram envolvidos na distribuição de armas a civis, vão ficar muito infelizes mesmo se a sua análise da situação possa ter defeitos.

Há ainda o problema das pessoas que acharem que os nomes que a Comissão der são correctos e que vão querer que a justiça se faça de imediato.

E não está de todo claro como é que se vai fazer justiça quando se tem um sistema de tribunais muito, muito problemático em Dili.

ANNE BARKER: Entre as suas recomendações, o relatório apela a ambos Xanana Gusmão e Mari Alkatiri, que ainda é o Secretário-Geral da Fretilin, pura e simplesmente para abandonarem a política para permitir a emergência de novos líderes.

José Ramos Horta está na Austrália esta semana e diz que Xanana Gusmão só recentemente disse que não planeia concorrer outra vez às eleições do próximo ano.

Mas diz que o que os autores do relatório dizem que é melhor para Timor-Leste pode não estar compatível com a realidade.

JOSÉ RAMOS HORTA: Tenho viajado pelo país desde a crise, em todos os lugares imagináveis em que se pode pensar, bairros, e mesmo falado com gangs, com jovens. E não encontrei um único indivíduo que dissesse que o Xanana Gusmão não devia concorrer.

Pelo contrário. Há somente uns dias as pessoas disseram-me que devíamos dizer ao Xanana que ele tinha que concorrer a um segundo mandato, mas ele parece determinado a não concorrer.

ANNE BARKER: Foi José Ramos Horta quem pediu à ONU em Junho para fazer este inquérito à crise recente, mas ao contrário de muitos, o Primeiro-Ministro diz que está confiante que o relatório da ONU não levará a mais violência.

JOSÉ RAMOS HORTA: Estou confiante que reagiremos com serenidade, porque a vasta maioria da população não quer violência e os líderes políticos obviamente nas últimas semanas mostraram responsabilidade e maturidade, estou pois mais confiante do que alguns observadores que exprimiram, e com toda a legitimidade e direito, alguma preocupação sobre a possibilidade de violência.

PETER CAVE: O Primeiro-Ministro de Timor-Leste, José Ramos Horta em Canberra.

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