Diário Digital / Lusa
18-10-2006 8:16:15
O primeiro contingente de 17 elementos da Polícia de Segurança Pública (PSP), do total de 58 que até Janeiro vão integrar a missão d a ONU em Timor-Leste, chegou hoje a Díli.
À chegada a Timor-Leste, José Ferreira, Chefe da PSP de Vila Real, salientou que as expectativas «são as melhores» e que o facto do grupo integrar vários agentes que já estiveram no país vai ajudar a facilitar a integração dos demais.
«As expectativas são as melhores uma vez que dentro do grupo alguns já estiveram nesta missão. Têm bastante experiência, daí o facto do resto do pessoal vir bastante mais à vontade e com as expectativas no máximo», salientou.
Os agentes da PSP, que chegaram hoje a Díli, ainda não têm funções definidas, mas fonte da Missão Integrada da ONU em Timor-Leste (UNMIT) disse à Lusa que o trabalho que os espera inclui patrulhamentos, funções de comando e formação da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL).
Para o Chefe da PSP de Vila Real, a instabilidade que ainda se vive em Timor-Leste constitui uma «preocupação» mas representa igualmente um «desafio».
«É evidente que traz preocupações e, paralelamente a isso, um desafio. Aliás a polícia existe justamente para isso. Vamos trabalhar no sentido de que todas as dificuldades, com tempo, com perseverança e com o nosso trabalho, sejam vencidas», vincou.
Um segundo grupo de 20 agentes da PSP e três militares da GNR chegam a Díli na próxima sexta-feira. No total, Portugal vai ter 255 efectivos na UNMIT.
Este total compreende os actuais 127 militares do sub-agrupamento Bravo da GNR, que vão passar para 140, e aos quais se juntarão outros 48, que terão responsabilidades em acções de formação da polícia timorense e devem participar no Estado-Maior da força policial, ao serviço das Nações Unidas.
Integrarão ainda aquele total de 252 efectivos, os cinco agentes da PSP, m is o actual comissário da UNPOL (Polícia das Nações Unidas), Antero Lopes, que já se encontram em Timor-Leste, os 17 polícias que chegaram hoje e os restantes os 41 que hão-de vir, mais três agentes do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que também ainda se encontram em Portugal.
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http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2006&m=10&d=19&uid=&id=102967&sid=11375
ResponderEliminarNão é necessário investigar mais o comandante Taur Matan Ruak
Público, 19 Out 2006
Por Adelino Gomes
O primeiro-ministro timorense defende que a prisão do major rebelde Reinado não deve ser feita a qualquer preço. E acha que não há razão para mais investigações à actuação do comandante das Forças de Defesa e do ex-ministro da Defesa Roque Rodrigues, como recomenda a ONU. Por Adelino Gomes
José Ramos-Horta, o chefe do Governo e ministro da Defesa de Timor-Leste, deu esta entrevista ao PÚBLICO por correio electrónico, poucas horas depois da divulgação de um relatório das Nações Unidas sobre os incidentes violentos de Abril e Maio. O documento, entregue na terça-feira ao Parlamento de Díli, pede processos judiciais contra 90 pessoas.
PÚBLICO - O relatório da ONU recomenda investigações judiciais contra, entre outros, o antigo ministro do Interior Rogério Lobato, o antigo ministro da Defesa Roque Rodrigues e o actual comandante das F-FDTL, (Falintil/Forças de Defesa de Timor-Leste) brigadeiro Taur Matan Ruak (TMR). Pede também mais investigações sobre eventuais responsabilidades do seu antecessor. Ficou surpreendido?
JOSÉ RAMOS-HORTA - Não. Não estou surpreendido. É natural que a Comissão tenha recomendado mais investigação em relação a algumas entidades. Mas cabe ao procurador-geral determinar se há necessidade de uma nova investigação.
PÚBLICO - Enquanto primeiro-ministro e ministro da Defesa, mantém a sua confiança institucional no brigadeiro Ruak?
JOSÉ RAMOS-HORTA - Tenho. Total confiança. Há duas pessoas neste país em relação às quais continuo a ter total confiança. O meu Presidente, Xanana Gusmão, e o brigadeiro-general TMR [Taur Matan Ruak]. Quer um quer outro são figuras incontornáveis para a democracia, a paz e estabilidade em Timor-Leste. No que toca à recomendação da Comissão de que deveria prosseguir-se com mais investigação sobre o papel do ex-ministro da Defesa Roque Rodrigues e do brigadeiro TMR, obviamente a decisão cabe ao procurador-geral da República mas não me parece que haja aí novidades. Nunca foi segredo - pois o comando das F-FDTL não andou a escamotear os factos - que o comando das F-FDTL distribuiu armas a veteranos da luta. Mas logo a seguir, quando receberam orientações para as recolher, assim o fizeram sem hesitação. Todas as armas foram recolhidas e verificadas por uma Comisssão Internacional composta de observadores de Portugal, EUA, Austrália, Nova Zelândia e Malásia. Por isso, não me parece que haja necessidade de maiores investigações. O meu predecessor, Roque Rodrigues, e Taur Matan Ruak são duas figuras pelas quais mantenho o maior respeito.
PÚBLICO - Para além das questões concretas que levam a Comissão a propor processos judiciais ou mais investigações contra dezenas de pessoas, o relatório [da ONU] nota que o Governo (de que fazia parte enquanto ministro de Estado, da Defesa e dos Negócios Estrangeiros) "foi insuficientemente pró-activo"; que o Presidente "devia ter mostrado maior contenção e respeito pelos canais institucionais"; e que a UNOTIL demonstrou "insuficiências no preparo e na abordagem" a este problema. Está de acordo com esta graduação de responsabilidades?
JOSÉ RAMOS-HORTA - Estou de acordo de uma maneira geral. Que o Governo devia ter sido mais pró-activo na busca de uma solução para o problema dos "peticionários" e para os problemas em geral na Defesa, na Polícia, Ministério do Interior, etc., é óbvio que sim. No tocante à questão dos ditos "peticionários" o governo de que fiz parte falhou rotundamente, e aceito a minha quota-parte nessa falha. Não vale a pena passar a responsabilidade para outros.
PÚBLICO - As autoridades (Procuradoria-Geral, ONU e forças australianas) têm negociado com o major [rebelde] Reinado a sua entrega. Depois deste relatório, o Estado timorense e as forças militares que o apoiam vão continuar a negociar com este oficial ou vão proceder à sua prisão?
JOSÉ RAMOS-HORTA - Todos os meios pacíficos devem ser usados para a entrega do sr. Alfredo Reinado. Enquanto houver uma chance de se evitar o uso de meios coercivos essa chance deve ser explorada.
Transcrição do DN:
ResponderEliminarRamos-Horta tenta “segurar” militares
DN, 19 Out 2006
Por: Armando Rafael
O primeiro-ministro timorense reiterou ontem a sua “total confiança”no comandante das forçar armadas do país, tendo tido o especial cuidado de revelar que o general Taur Matan Ruak aceitava as conclusões do relatório da ONU sobre a violência em Timor-Leste, considerando que o documento era “muito justo” e “equilibrado”.
Duas expressões retiradas do comunicado que foi tornado público pelo gabinete de Ramos-Horta, que aproveita também a oportunidade para recordar da apreciação feita na véspera pelo primeiro-ministro, em simultâneo com o Presidente da República, Xanana Gusmão, e o Presidente do Parlamento timorense, Francisco Guterres (Lu-Olo), realçando a imparcialidade dos inquiridores da ONU, que orientaram as suas análises, “optando pelo critério da suspeita razoável”.
Menos perceptível é, contudo, o parágrafo posterior à referência em que Ramos-Horta, que também é Ministro da Defesa, elogia o zelo e a disciplina evidenciadas por Taur Matan Ruak durante a crise timorense. Aquele em que adianta que o relatório da ONU concluiu que “os líderes das F-FDTL não estavam envolvidos num conjunto de alegações, segundo as quais a liderança das F-FDTL teria entregue armas a antigos combatentes”.
O que contraria o que está expresso no relatório, designadamente nos pontos 95, 96 e 134, levando os inquiridores a darem como provado que Taur Matan Ruak distribuiu armas das F-FDTL, por civis no dia 24 de Maio, razão pela qual a comissão recomenda que o comandante das forças armadas seja processado judicialmente.
O que José Ramos-Horta parece apostado agora em travar, tentando tranquilizar as F-FDTL que, ao longo da crise em Timor-Leste, revelou grande coesão interna.