Cidade da Praia, 26 Set (Lusa) - O presidente cabo-verdiano afirmou hoj e compreender a decisão de António Mascarenhas Monteiro de recusar o cargo de representante especial do secretário-geral da ONU em Timor-Leste por haver reservas ao seu nome, mas escusou-se a identificar quem as manifestou.
"Não pretendemos entrar numa situação de polémica com qualquer pessoa, com qualquer entidade e com qualquer país. O nosso país tem sido nesta matéria um Estado sensato, que trabalha para unir e não para separar. De modo que não nos convém estar a entrar em detalhes", disse Pedro Pires.
No entanto, questionado por jornalistas sobre se a Austrália teria manifestado reservas em relação ao nome de Mascarenhas Monteiro ou a Cabo Verde, Pedro Pires respondeu que "os australianos é que podiam explicar isso".
"Nós temos de entender que neste mundo cada um defende os seus interesses e que quando um governo toma uma decisão não tem em conta só o bem servir a uma comunidade, tem em conta os seus interesses. Já se costuma dizer que na política não há amizade, e é normal que um Estado defenda os seus interesses", acrescentou.
Pedro Pires falava aos jornalistas no final de um encontro na Cidade da Praia com António Mascarenhas Monteiro, que quis explicar "de viva voz" ao Presidente da República as razões que o levaram a desistir do cargo de representante especial do secretário-geral das Nações Unidas em Timor-Leste, para o qual foi convidado por Kofi Annan.
"Entendi que como cabo-verdiano deveria dar uma satisfação ao Presidente da República, que seguiu com muita atenção esse processo", explicou o antigo chefe de Estado de Cabo Verde.
Mascarenhas Monteiro anunciou segunda-feira, em conferência de imprensa na capital cabo-verdiana, que decidiu recusar o cargo devido a reservas de "partes externas a Timor" em relação ao seu nome, adiantando apenas tratar-se de "potências fortemente envolvidas que têm forças no terreno".
Na sua página na Internet, o jornal cabo-verdiano A Semana escreve que "embora não tenha sido dito textualmente de onde terão surgido as "reservas", facilmente se conclui que elas partem da Austrália, uma potência que tem dado as cartas na região asiática de que faz parte, em especial em Timor-Leste".
"Camberra mantém neste momento vários efectivos no terreno para manter a paz e a segurança em Díli. Não será certamente do seu agrado submeter os seus efectivos ao comando de um lusófono, no caso, António Mascarenhas Monteiro. Isto para não falar dos interesses económicos em jogo: Timor-Leste poderá transformar-se nos próximos anos num grande produtor de petróleo e gás natural", lê-se ainda na edição "online" do jornal privado cabo-verdiano, o mais lido no país.
No final do encontro com Mascarenhas Monteiro, Pedro Pires referiu que o ex-presidente ponderou o assunto e tomou a decisão que lhe pareceu mais conveniente.
"Estou de acordo que havendo alguma reserva em relação à sua escolha e querendo ele desempenhar da melhor forma estas funções (...) teria que se sentir à vontade para agir de acordo com o mandato e de acordo com a sua consciência d e homem, de alguém que já foi Presidente da República no seu próprio país", disse.
"Vendo que não estariam reunidas todas as condições que ele considerava necessárias ao exercício do mandato e para servir Timor, temos que aceitar a sua decisão", afirmou.
Pedro Pires manifestou a sua solidariedade com Mascarenhas Monteiro, qu e disse conhecer bem e que definiu como "uma pessoa sensata e que pesa bem aquilo que diz e faz".
Referiue ainda que é necessário não dramatizar esta questão, até porque "outras oportunidades irão aparecer".
"Já a escolha em si é um acto de reconhecimento de Cabo Verde e da pessoa do dr. Mascarenhas Monteiro, das suas qualidades, da condução de homem de Estado, um homem que dá confiança a qualquer um", acrescentou.
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