quinta-feira, setembro 07, 2006

O pau grande de Downer para Timor-Leste

Tradução da Margarida.

The Guardian 6 Setembro, 2006

A visita do Ministro dos Assuntos Estrangeiros da Austrália Alexander Downer a Timor-Leste esta semana foi para pressionar o Governo de Timor-Leste a adoptar políticas pró-Australianas ainda mais reaccionárias.
O Governo Australiano esteve por detrás dos recentes distúrbios em Dili que viram a expulsão do Primeiro-Ministro Mari Alkatiri e a sua substituição pelo pró-Australiano José Ramos Horta.

Downer repreendeu publicamente o Governo de Timor-Leste para assumir mais responsabilidade na manutenção da ordem mas a intenção de ambos, Ramos Horta e Downer, nesta altura, é minar a influência da Fretilin.

A Fretilin presentemente tem a maioria dos lugares do eleito democraticamente parlamento de Timor-Leste. As eleições estão previstas no próximo mês de Maio.

Eventos recentes em Timor-Leste revelaram dramaticamente que o golpe para derrubar o Primeiro-Ministro Mari Alkatiri foi somente um passo para objectivos de longo alcance dos seus conspiradores.

A fuga cuidadosamente planeada de Alfredo Reinado com outros 56 criminosos duma prisão de Dili na semana passada assinalou o começo duma outra campanha para criar instabilidade e enfraquecer a influência da Fretilin. Ramos Horta, que não é mais um membro da Fretilin, pediu que o partido "se reformasse " ele próprio e elegesse uma nova liderança.
Ramos Horta disse que os membros da Fretilin devem "projectar-se eles próprios como um partido moderno, inclusivo, tolerante ".

Foi a força multinacional de forma preponderante constituída por tropas Australianas que permitiu a Reinado fugir, e logo que saiu da prisão — onde estava com a acusação de tentativa de homicídio e por ter iniciado os distúrbios em Dili em Maio — emitiu um apelo para um "levantamento popular " contra o governo. Só um governo formado por forças da extrema-direita disponível para cooperar totalmente com o Governo Australiano será aceitável para John Howard e o seu Ministro dos Estrangeiros.

Tais forças políticas já existem entre os partidos da oposição em Timor-Leste, tendo colaborado no passado quer com agências do governo Australiano, Indonésio ou dos USA.

Continuarão a encenar incidentes — queimando casas, assassinando civis — visando em particular apoiantes da Fretilin. O objectivo deles é criar um clima de medo que esperam lhes dará a capacidade para derrotar a Fretilin nas eleições no próximo ano.

O momento da fuga da prisão pode também estar ligado à decisão do Conselho de Segurança da ONU de enviar uma força de 1600 elementos da polícia comandada pela ONU para Timor-Leste para ajudar a estabilizar a situação que leva às eleições. O Comissário da Polícia nomeado pela ONU já está em Dili para assumir a missão de manutenção de paz. Estabilidade é a última coisa que os conspiradores do golpe querem para terem sucesso na criação da tensão necessária, do medo, e da imagem de um “governo falhado” ou de um “Estado falhado” no país.

A decisão do Conselho de Segurança da ONU não foi do gosto do Governo Australiano que argumentou que as unidades armadas da Austrália, Nova Zelândia, Malásia e Portugal sob comando Australiano podia fazer o trabalho e que as actividades da ONU se deviam limitar a fornecer ajuda aos 70,000 residentes de Dili transformados em refugiados no seu próprio país e estão ainda demasiado aterrorizados para regressarem às suas próprias casas.

Outro desenvolvimento foi a decisão do Governo de Timor-Leste de solicitar ser membro da ASEAN o que pode abrir muitas portas para o desenvolvimento económico de Timor-Leste e também dá ao pais uma base de apoio político muito larga, ajudando a nova nação a manter a sua independência e a sua posição política de não alinhado nos assuntos internacionais.

Outro evento significativo foi o acordo feito pelo governo de Timor-Leste com Cuba para fornecer cerca de 200 médicos para trabalhar em Timor-Leste e para Timor-Leste enviar um contingente de estudantes para Cuba para treino médico. Há também uma possibilidade de o governo de Timor-Leste estar representado na Cimeira dos Não-Alinhados que se vai realizar em Cuba em meados deste mês.

Todos estes desenvolvimentos são razões porque Alexander Downer, junto com o seu colega Indonésio, foram a Dili pressionar e ameaçar o Governo Timorense e preparar o terreno para mais divisões na direcção das eleições do próximo ano.

2 comentários:

  1. Da Indonésia fala-se quase nada, mas ela esteve presente na Cimeira tripartida que ocorreu há dias. Até parece que em nada interfere nesta crise, que é mera observadora e, como a Austrália, muito amiga de TL e do seu povo. Mas uma amiga muito sossegada, ao contrário da Austrália.
    Seria interessante, para quem tivesse dados e opiniões, que se aprofundasse e debatesse a posição e as atitudes da Indonésia nesta crise.
    Quem souber e puder que ajude a esclarecer.
    Obrigado.

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  2. Para clarificar, o Guardian é o jornal do Partido Comunista da Austrália, não o jornal britânico do mesmo nome.

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