terça-feira, julho 11, 2006

Tão Grande Dor

"Tão grande dor para tão pequeno povo" palavras de um timorense à RTP.

Tão Grande Dor

Timor fragilíssimo e distante
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

"Sândalo flor búfalo montanha
Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais"

Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Rui Cinatti
Sentado no chão
Naquela noite em que voltara da viagem

Timor
Dever que não foi cumprido e que por isso dói

Depois vieram notícias desgarradas
Raras e confusas
Violências mortes crueldade
E anos após ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia --- espanto prodígio assombro ---
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

Timor cercado por um bruto silêncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre falado
Porque não era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercado

O cerco da surdez dos consumistas
Tão cheios de jornais e de notícias

Mas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silêncio
Irromperam nos écrans e os surdos viram
A evidência nua das imagens

Sophia de Mello Breyner Andresen


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1 comentário:

  1. Então não colocam a BOLD nada deste belo poema?...

    Os tempos são já outros e os senhores andam a fazer de conta que não sentem.

    A Fretilin tem que renovar os seus operacionais e os seus políticos, caso contrário pode mesmo desaparecer... e ninguém quer isso pois como se sabe a desestabilização seria uma coisa indesejável...

    Não sujem o poema de Sophia.

    Escrevam outro mais actual por muito que a goste de reler...

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