Tradução da Margarida:
De um leitor atento:
Apesar de a democracia estar a ser testada em Timor, acredito que Timor ultrapassará este episódio traumático de crise política. Ironicamente eleições e democracia serão a única solução para a questão.
Se as alegações contra Mari não se transformarem em acusação então haverá uns tantos indivíduos em Timor Leste que ficarão sob escrutínio. Talvez ele venha a ser outra vez Primeiro-Ministro se a FRETILIN outra vez lhe der a confiança.
Xanana e Horta tomaram algumas decisões obscuras e arriscadas. Em vez de se focarem no desarmamento e na contenção dos soldados rebeldes e no aquartelamento das FFDTL, focaram-se na retirada dum Primeiro-Ministro legitimo. Pensava-se que com a retirada do Primeiro-Ministro os deslocados regressariam a casa, e as reconstruíam mas isso não aconteceu porque a situação de segurança está em dúvida porque não se sabe ainda de muitas armas.
Em vez de resolverem a crise de segurança Xanana e Horta através das suas decisões bruscas criaram uma crise política complexa que parece que só uma eleição resolverá.
A não ser que Xanana e Horta possam resolver rapidamente a crise de segurança, mesmo assim a solução está longe do fim. Estão a fazer-se avanços com a entrega de armas pelas “forças rebeldes” mas se não se encontrarem todas as armas ou se não há confiança que todas as armas foram entregues, então o clima de medo sentido pelos deslocados em Dili continuará e veremos muita gente permanecer nos campos por algum tempo.
A criação dum governo interino antes de eventuais eleições em 2007 é importante para o desenvolvimento de Timor-Leste. Qualquer razão ou tentativa para retirar essa possibilidade de eleições em 2007 criará uma maior dúvida na capacidade do Presidente em estabelecer segurança, isto é potencialmente causador de estragos porque uma das críticas ao Governo sob a liderança de Mari foi a sua inabilidade em providenciar segurança.
Em termos de críticas ao Governo e reflectindo na resignação forçada de Alkatiri, há um número infindável de inconsistências e alegações.
Alegação 1: o Governo falhou na sua obrigação de providenciar segurança = pedido de resignação do Primeiro-Ministro
Alegação 2: o Primeiro-Ministro pediu a intervenção da FFDTL em 28 Abril sem ter consultado o Presidente (resultou na morte de 5 manifestantes) = (i) Inconstitucional o Primeiro-Ministro devia ser removido, o Governo devia ser removido (ii) a insistência do Alfredo que o Primeiro-Ministro deve ser considerado “Criminoso” por causa de 5 mortes (Alfredo reclama que o Primeiro-Ministro deu ordens explícitas a TC Lere da FFDTL para quebrar qualquer forma de insurgência, que resultou na morte de cinco manifestantes em Tasi Tolu).
Alegação 3: FFDTL matou 60 pessoas, reclamada por Tara e Salsinha, insubstanciado = o Primeiro-Ministro devia resignar ou ser removido para enfrentar o tribunal.
Alegação 4: o Primeiro-Ministro ordenou armar civis = o Primeiro-Ministro devia resignar.
Alegação 5: o Primeiro-Ministro falhou em evitar que o seu antigo ministro do interior, Rogério Lobato, armasse e dirigisse um esquadrão clandestino de ataque com o objectivo de reforçar a "segurança" antes dum congresso nacional: Paulo Martins e Rai Los alegaram e Horta secundou = Mari Alkatiri é provavelmente culpado de crimes contra o Estado mas qualquer sentença será comutada pelo parlamento, de acordo com José Ramos Horta.
Todas as alegações e subsequentes exigências incluíram ameaças de demitir o Governo e de dissolver o Parlamento pelo Presidente.
Xanana e Horta não trabalharam efectivamente para evitar a crise. Antes dos confrontos em Fatu Ahi e Dili, Xanana e Horta encontraram-se com Alfredo e isso foi entendido que Alfredo devia continuar a providenciar segurança em Aileu. Foi também publicamente proclamado por Xanana que ele estava em contacto constante com Salsinha e Alfredo, e mais tarde todos os rebeldes chamaram a Xanana o seu “Comandante Supremo”, não aderindo a Taur Matan Ruak ou ao Governo.
Os discursos de Xanana também foram controversos. Num discurso o Presidente fez conotações inflamatórias acerca dos actos dos Timorenses dos distritos do leste e do oeste durante a luta contra a ocupação que resultou no incêndio do mercado de Taibessi.
Xanana então enviou um video tape da reportagem da four corners e uma carta a requerer a resignação do Primeiro-Ministro que não obteve. Num outro encontro, outra vez o Presidente não obteve a resignação do Primeiro-Ministro, um pedido que não tinha base legal além do video tape. No fim deste triste episódio para o Presidente talvez levado pela frustração fez um discurso em 22 de Junho de 2006 atacando a FRETILIN, a sua liderança e fora do contexto da crise corrente. Pareceu que o pedido para a remoção era mais do interesse pessoal do que do interesse do país. O Presidente disse de chancas ao Primeiro-Ministro se não resignar então resigno eu. O “povo” incluindo o Major Tara e Railos, Fernando Lasama e o PD com os seus 7 lugares no parlamento e poucos milhares de manifestantes com ar juvenil juntaram-se atrás do Presidente pedindo a remoção imediata do Primeiro-Ministro como se isso fosse a solução para a crise de segurança.
O Primeiro-Ministro resignou para que o Presidente não resignasse. O Presidente e Horta estavam satisfeitos que a situação de segurança ia melhorar. Contudo as exigências continuaram ainda, não satisfeitos com a cabeça do Primeiro-Ministro eles queriam as chaves do Governo e do Parlamento. Fazer-se ameaças contra o Parlamento está na Constituição? Certamente que não.
Uma data importante no seguimento da remoção do Primeiro-Ministro foi 27 Junho quando os apoiantes da FRETILIN se juntaram em massa em Metinaro. Na Quarta-feira 28 Junho, os apoiantes do Presidente que “pacificamente", mais cedo durante a semana protestaram ao lado do Presidente foram numa fúria através de Dili queimando casas de militantes da FRETILIN, atacando refugiados inocentes, e tentaram queimar as instalações da RTTL. O Presidente falhou no controlo dos seus próprios apoiantes. No dia seguinte a turba sairia de Dili, aonde entrou a FRETILIN. Em dois dias de protestos pacíficos, não houve ataques, nem incêndios nem violência mesmo quando confrontados por provocadores apoiantes do Presidente.
Bem, os protestos acabaram, as questões políticas estão agora a ser resolvidas através de portas fechadas.
Uma eleição espreita.
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