Díli, 26 Jul (Lusa) - O brigadeiro-general Taur Matan Ruak será ouvido pelo Ministério Público timorense num processo relacionado com a morte de dez polícias, no passado dia 25 de Maio, em Díli, em plena crise político-militar, disse hoje à Agência Lusa fonte judicial.
Ainda sem data marcada, a audição daquele oficial, que é o comandante das forças armadas de Timor-Leste, "constitui um acto normal em qualquer processo de investigação", precisou a fonte, que pediu para não ser identificada.
Os contornos violentos da crise em Timor-Leste desencadearam- se em finais de Abril e prolongaram-se pelos meses de Maio e Junho, com um saldo de cerca de 30 mortos, dezenas de feridos e cerca de 150 mil deslocados em campos de acolhimento distribuídos pelo país.
No passado dia 25 de Maio, militares dispararam contra agentes da polícia, tendo morto dez polícias e ferido 28 pessoas, incluindo dois polícias da ONU, um filipino e um paquistanês.
A fonte contactada pela Lusa salientou que o Ministério Público "abriu vários processos, relacionados com os actos de violência registados entre o dia 28 de Abril e o dia 25 de Maio".
Dias depois do tiroteio, em declarações à Lusa, o coronel português Fernando Reis, destacado em Timor-Leste, em missão da ONU, disse que na origem do caso esteve o "descontrolo de um militar".
O militar português, conselheiro especial que chefia o Grupo de Treino Militar e Aconselhamento (MTAG), esteve no centro das operações de rendição daqueles polícias, tendo liderado a coluna apeada que estava a ser transferida para as instalações da ONU em Díli.
Em contacto telefónico a partir de Lisboa, Fernando Reis assegurou à Lusa que o derramamento de sangue teve como causa "o descontrolo de um militar, logo seguido de mais dois", que se cruzaram com a coluna e abriram fogo.
Fernando Reis explicou que "ninguém mandou desarmar ninguém, os polícias desarmaram-se livremente. Foram eles que mandaram uma mensagem à UNOPOL (força de polícia das Nações Unidas em Timor-Leste) a dizer que queriam render-se, porque não conseguiam contactar o brigadeiro-general Taur Matan Ruak, comandante das forças armadas timorenses, F-FDTL".
Uma vez que "havia cinco polícias da UNOPOL naquele comando e para evitar mais mortes e conseguir parar o tiroteio" o coronel Fernando Reis afirmou que expôs "a situação, que já era militar" a Sukehiro Hasegawa, o chefe da missão da ONU em Timor-Leste.
Depois de ter falado também com o brigadeiro-general Taur Matan Ruak, Fernando Reis deslocou-se "com dois militares do MTAG" ao comando da polícia, onde estabeleceu diálogo com o oficial da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL).
"Perguntei se sempre queriam render-se", disse Fernando Reis à Lusa. "E expus as condições: quem se quer render, deixa a arma num carro que trouxemos e tem de vir comigo. Quem não quiser entregar a arma, fica cá e sujeita-se".
O militar português referiu que, entretanto, "chegaram colegas da UNOPOL e mesmo os mais renitentes seguiram o conselho. Foi tudo voluntário. A UNOPOL não obrigou ninguém a render-se".
Foi organizada uma coluna apeada, que seguiria atrás do militar português até às instalações da ONU em Díli.
"Eram cerca de 80 homens, formados a três e, aos lados coloquei viaturas para proteger de qualquer incidente", relatou Fernando Reis.
A coluna deparou-se, num cruzamento, "com três ou quatro militares" e, segundo Fernando Reis, elementos da UNOPOL e do MTAG adiantaram-se para lhes pedirem que se afastassem.
Foi aí que "um deles perdeu o controlo e atirou em alguém e isso foi um momento crítico". Em vão, tinha Fernando Reis pedido que "não corressem e não respondessem a provocações". De seguida, "outros dois soldados abriram fogo".
Fernando Reis disse ter ido no encalço dos três soldados que haviam disparado e levou-os ao quartel onde se encontrava Matan Ruak.
O comandante das forças armadas timorenses "pediu desculpa, mandou chamar os três militares" e, à frente do coronel português, anunciou-lhes que iriam "ser punidos".
"Acredito no general Matan Ruak, que é um homem de honra e de palavra", comentou Fernando Reis, que pela própria narrativa dos factos, considerou que "não faz sentido nenhum dizer que o episódio teve alguma intervenção política".
"Incidente lamentável", assim classificou Fernando Reis o episódio, "devido ao descontrolo de um militar. Não houve ninguém a dizer àquele louco para abrir fogo. Foi uma situação imprevisível, de alguém que, na altura, se descontrolou".
A Lusa contactou hoje o brigadeiro-general Taur Matan Ruak a quem solicitou um comentário sobre a possibilidade de ser ouvido pelo Ministério Público.
"Não faço comentários à imprensa", foi a resposta do oficial timorense.
OM/EL.
A Margarida é capaz de ler isto e ainda vir dizer que eram homens do Reinado disfarçados de FDTL.
ResponderEliminarPelo menos, enquanto o Avante não não receber orientação da Direcção para aceitar o testemunho do Coronel do Exército português como válido e proceder à revisão da história oficial que o partido apresenta.
O mundo pula e avança como uma bola, mas não nas mãos desta criança.
Eu tinha presente este texto da Lusa. Vocês é que acusaram o Alkatiri de ter dado ordens para as F-FDTL atacar a PNTL, lembram-se? Eu própria, na altura me utilizei da discrição do Fernando Reis para desmontar as vossas atoardas. É que este texto da Lusa "recuperou" pontos doutro texto da Lusa por alturas desse acontecimento que foi, salvo erro a 24 ou 25 de Maio. Esta descrição do que então se passou é que foi constantemente negada por vocês. Mas de qualquer modo em parte alguma do texto está escrito que estes soldados eram regulares ou irregulares, por isso repito-lhe o que lhe disse ontem, esperemos que a Comissão de Inquérito tire as suas conclusões. Mas folgo ver que afinal deixaram cair mais uma acusação contra o Alkatiri...
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