sexta-feira, junho 16, 2006

Só? E o resto?

Militares rebeldes entregam armas antes possível diálogo alargado


Eduardo Lobão, da Agência Lusa Maubisse, Timor-Leste, 16 Jun (Lusa) - O líder dos militares timorenses rebeldes, major Alfredo Reinado, entregou hoje as suas armas às forças australianas, num processo accionado pelo presidente Xanana Gusmão que pode abrir caminho à resolução da crise político-militar em Timor-Leste.

A entrega das armas de Reinado e dos 20 efectivos das forças armadas e da polícia que se mantêm acantonados em Maubisse decorreu naquela vila montanhos a situada 60 quilómetros a sul de Díli, durante uma cerimónia que começou com um atraso de uma hora e meia.

Marcada para a tarde de hoje (hora local), a cerimónia realizou-se apenas 90 minutos depois, após a chegada de um enviado do Presidente da República, Xanana Gusmão, com o documento que ordenava ao major Alfredo Reinado a entrega da sua arma e as dos seus homens aos militares australianos em Maubisse.

No documento de quatro pontos, intitulado "Ordem de Entrega de Armamento", Xanana Gusmão salienta a sua condição de chefe de Estado e de Comandante Sup remo das forças armadas e cita o acordo que está na base da presença em Timor-Le ste de forças militares e policiais australianas.

O número oito do referido acordo, denominado "Acordo Entre os Governos da Austrália e da República Democrática de Timor-Leste Concernente à Restauração e Manutenção da Segurança em Timor-Leste" atribui às forças australianas a "responsabilidade de monitorar o acantonamento das forças em áreas designadas".

Xanana Gusmão evocou ainda a sua declaração do passado dia 30 de Maio, quando anunciou ao país uma série de medidas de emergência, a vigorar por 30 dia s, tendo em vista "ultrapassar a crise" no país.

Depois de se referir no documento a Alfredo Reinado como "major (...) comandante da Componente Naval das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste e comandante interino da Polícia Militar das F-FDTL, presentemente acantonado em Maubisse", ordenou-lhe que entregasse de imediato o seu armamento às Forças de Defesa Australianas.

Em seguida, debaixo de chuva miudinha, o major Reinado mandou formar os 20 homens sob o seu comando e depois de verificar as condições de segurança da sua arma automática M16, entregou-a, juntamente com nove carregadores de muniçõe s, a um militar australiano, que repetiu o controlo das condições de segurança e a deu a um segundo militar do seu pelotão, enquanto outro tomava nota do tipo e número de série da arma.

A operação repetiu-se mais 14 vezes, com cada um dos homens do grupo do major a entregar a arma e voltando à formatura depois de fazer a continência.

No total, foram recolhidas 12 armas automáticas, do tipo M16, G3 e FN, e três pistolas, do tipo Glock e Browning, além de muitas munições.

As armas foram colocadas dentro de um contentor colocado no pátio exterior da Pousada de Maubisse, onde se realizou a cerimónia.

Fechado o contentor, foi a vez do major Alfredo Reinado receber os jornalistas no interior da pousada, onde respondeu em português, tétum, inglês e bah asa indonésio.

A primeira pergunta foi para saber o que iria fazer em seguida, agora que entregou a sua arma.

"Vou ficar por aqui e aguentar. Esperar para ver o que acontece", respondeu.

O major Reinado negou ter negociado com Xanana Gusmão a entrega da sua arma, frisando que não tem capacidade para negociar.

"Eu não tenho capacidade para negociar. Recebi uma ordem do meu Comandante Supremo e cumpri-a", vincou.

Questionado sobre a continuação de Mari Alkatiri à frente do governo, c uja demissão tem sido exigida pelos militares rebeldes, o major Alfredo Reinado respondeu tratar-se de uma questão que "cabe aos políticos resolver".

Repetindo a sua condição de militar, disse "deixar para os políticos a resolução da crise".

"Eu sou militar. Não sou político", insistiu.

à pergunta sobre se tinha entregue todas as armas sob o seu comando, re spondeu que as que faltam, dos grupos dos majores Marcos Tilman e Alves Tara, "v êm a caminho".

Aqueles dois majores, acantonados em Gleno, no distrito de Ermera, vão entregar as suas armas aos militares australianos em Maubisse, afirmou Alfredo R einado.

Agora que se encontra desarmado, o major Reinado disse que a sua segura nça e a dos seus homens "é garantida pelo Presidente".

"O meu Presidente é a minha protecção", sublinhou.

O desarmamento dos militares rebeldes era considerada uma condição para a realização de um diálogo alargado para resolver a crise em Timor-Leste e já f oi saudado pelo primeiro-ministro, Mari Alkatiri, como "um bom começo" no proces so de estabilização do país.

"É um bom começo, para estabilizar o país. Espero que outros sigam o ex emplo", salientou Mari Alkatiri à Lusa, admitindo que por "outros" se referia a grupos de civis armados que nas últimas semanas protagonizaram actos de violênci a em Díli.

"Não pode haver armas nas mãos de civis ou de pessoas que não pertençam a instituições como as Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste ou a Polícia Na cional de Timor-Leste", frisou Alkatiri.

A entrega de armas dos rebeldes timorenses foi anunciada quinta-feira à Lusa pelo major Marcos Tilman e confirmada pelo comandante das forças australia nas, brigadeiro Mick Slater.

O anúncio foi feito 24 horas depois de Xanana Gusmão ter anunciado, em mensagem ao Parlamento, que tinha chegado a hora de se passar à segunda fase da presença das forças militares internacionais no país, com o seu desdobramento pa ra os restantes distritos.

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EL/PNG.

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3 comentários:

  1. Mas ninguém tem os sentido do ridículo? Reinaldo o «chefe» dos soldados dissidentes? Entregar 12 armas? Mas então então onde estão os outros 500 e tal que faltam. Haja decência e sentido da realidade, ou continuam a fazer crer que a realidade é ficção e a ficção realidade?

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  2. Seria um bocado chato aparecerem de imediato 0s 500 e tal que faltam assim do pé´para a mão... faz certamente parte do que será necessário fazer já que em tempo oportuno e antes de tudo ter descambado não tiveram os políticos a visão suficiente para não terem virado as costas a 40% da sua força que lhes pedia atenção a questões que têm agora que ser resolvidas. Eles vão aparecer.

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  3. Parece que a estratégia é simples e está a ser executada com pinças!
    Entregar as armas (possíveis) e depois fazer "as contas", isto é, encontrar os culpados.
    Era muito importante que quem conduzisse o processo tivesse em conta o óbvio conceito timorense de conciliação das partes, mas não houvesse a tentação de branquear e distorcer tudo o que aconteceu nesta fase crítica de crescimento de T-L.
    Parece que a forma como, sob o ponto de vista legal, for resolvida esta questão (tão grave) assim será, no futuro, a forma como prosseguirá a vida social no País bem como a credibilidade, interna e externa, que venha a ter a instituição judicial.
    Até aqui foram tratados os problemas das milícias por uma forma tradicional num espírito timorense na acepção de se considerar uma questão entre irmãos. Correcto. Agora o assunto é num contexto de uma democracia, com legislação aprovada e com tribunais que funcionam.
    Se objectivo é repor a legalidade institucional e credibilizar a justiça então que sejam ambas respeitadas.
    As feridas estão abertas mas a cura deverá deixar a menor cicatriz possível.
    Afigura-se, assim, que, por exemplo, o Major Reinado terá que ser julgado pelos seus actos e, particularmente, verificar-se até que ponto foi manipulado por interesses extenos contrários aos do seu País (traição?). Não parece razoável nem comprêensivel a todos integrar na F-FDTL quem tenha cometido os excessos que ficaram patentes (em todo o planeta...).
    Parece que qualquer comandante das forças armadas não tolerará no seu seio quem tenha cometido os desacatos e insubordição conhecidas. Até pelo exemplo que consistirá para todos os outros militares e povo em geral.
    Ouvi em tempos uma frase que tem muito de verdade: Justiça branda faz o povo rebelde...(não será assim?)

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