sexta-feira, junho 23, 2006

Está quase a amanhecer em Díli

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer..."

E assim era. E assim deixamos ficar para nunca nos esquecermos.

Agora, nesta madrugada, esperamos o que vai acontecer durante o dia de hoje. Ontem foi a derradeira jogada, a jogada do desespero, para derrubar Mari Alkatiri e a Fretilin do poder, que alcançou por vias democráticas nas primeiras eleições de Timor-Leste.

Facilmente, amanhã pode começar o fim da independência de Timor-Leste e a sua transformação num Estado falhado.

Os ódios que nasceram na violência entre Lorosaes e Loromonos, a desintegração das forças militares e de segurança, o exôdo da população de Díli, a demonização, como o próprio afirma, da pessoa de Mari Alkatiri, a importância e autoridade que deram a desertores e bandidos, a falta de respeito pela Constituição, a exploração da imaturidade política da maior parte dos políticos e da falta de cultura democrática, tudo isto, pode ter como resultado o fim do caminho que Timor-Leste seguia, como jovem nação independente.

E porquê? Interesses económicos de alguns, fogueira de vaidades de outros, incompetência de agências internacionais, a lista não acaba.

Amanhã, ou nos próximos dias, a história pode repetir-se no seu pior.

Desde o princípio desta crise, acreditámos que enquanto Xanana Gusmão e Mari Alkatiri se suportassem mutuamente, havia a esperança do povo decidir em 2007, novamente, qual o caminho a seguir.

Somos testemunhas dos esforços que Mari Alkatiri fez nos últimos anos para estabelecer essa harmonia institucional entre o Governo e a Presidência, notado diversas vezes pelo próprio Presidente.

A ruptura parte agora do lado de Xanana Gusmão que nunca perdoou a Mari Alkatiri não lhe ter dado os poderes presidenciais que ambicionava, quando a maioria da Fretilin aprovou uma Constituição que não previa um regime presidencialista. O seu discurso de ontem não foi digno do seu passado nem do Homem que é.

Mari Alkatiri tem mostrado sentido de Estado e capacidade executiva, infelizmente nem sempre acompanhado à altura. Hoje, como nos últimos anos, cabe-lhe a ele decidir o futuro de Timor-Leste.

Do Presidente já vimos o que podemos esperar.




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