CARTA AOS MEUS AMIGOS DE TIMOR
Tenho vivido nestes ultimos tempos, pelo desassossego, com uma preocupação enorme, pelos amigos que estão em Timor e pelo retrocesso no desenvolvimento e na construção do Estado.
É uma desgraça para o povo, começar tudo ou quase tudo de novo.
Começar o que por ventura custa mais que é olharem uns para os outros como verdadeiros irmãos, que partilham o mesmo espaço... é uma tarefa muito difícil e agora com mais obstáculos.
Normalmente as organizações preocupam-se com as performances e com os targets, mas dão pouca, importância ao poder da cultura, dos valores humanos (mesmos os mais básicos, como é o respeito pela vida, pela palavra!...).
Nos ultimos anos tentou-se, em Timor, num àpice formar tudo desde da tropa, polícia, políticos, gestores - com elevados padrões operacionais e com muitos planos de acção, visões futuras etc.. -- mas em minha opinião (aliás foi o diagnóstico que fiz quando me aprecebi da realidade e da fragilidade das pessoas e instituições), em paralelo com as acções de gestão, é preciso investir numa verdadeira e consistente mudança cultural, das mentes, do pensamento, dos comportamentos e atitudes. Todos os Países deram dinheiro e recursos humanos - mas o que Timor Leste precisa são de verdadeiros laços humanos, onde os valores da sociedade e das pessoas sejam o ponto fulcral ao nível do estado, das empresas e do cidaddão. Como o fazer? Neste momento, pelo que vi não sei... Qual é o papel da UN e dos parceiros na criação de um melhor clima de valores para todas as partes a par do investimento , para o desenvolvimento sustentado e harmonioso, nomeadamente na estruturação organizacional do estado e das empresas? Qual o caminho a desenvolver para a capacitação e para inculcar os valores base da sociedade, nos governantes, empresários e pessoas? Qual é o papel da igreja, na formação das pessoas e das suas mentes?
Como é possível tanto ódio e violência, quando a pobreza e a debilidade do País exige o contrário!...
Se sentia realmente dificuldades, quanto ao melhor caminho a propor, agora estou mais confuso depois desta desgraça e do esforço dispendido... sinto que é preciso passar algum tempo para degerir tudo o que se tem passado e esperar que as forças de paz internacionais ponha um ponto de ordem no terreno - mas julgo que não poderá ser uma repetição de modelos, terá que haver uma verdadeira revolução (desígneo nacional?!...) e uma adequada terapia nos comportamentos, nas mentalidades e processos.Pelos próprios intervenientes! Claro. Como?! Está aberta a discussão.
Que Deus vos abençoe e ajude ... apurados os pontos fracos e os erros, para os colmatar e corrigir, tenho só uma certeza, só o futuro é que interessa ... a reconciliação torna a ser o ponto fulcral - para restaurar a confiança e a credibilidade nas pessoas, empresas e no estado -- e o dinheiro e a mão estendida não é o mais importante, mas sim os valores que enformam as atitudes e os comportamentos dos cidadãos, sejam governantes, opositores, partidários, empregados, profissionais, povo - com esta ideia se o comportamento cívico for bom, aceitável os resultados do governo, da assembleia, das empresas e em suma dos processos serão razoáveis, bons ou excelentes.
Tenho a convição que os parceiros falaram muito do dinheiro, do dólar dos milagres - mas, muito pouco na mudança cultural, fundamental para sustentar o desenvolvimento e se obter os resultados que todos esperavavam e não esta desgraceira... no fundo no fundo todos falhámos.
Não se consumam, nem caçem bruxas...
Termino com um abraço.
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