domingo, maio 28, 2006

Leitores (11) - Novo Mundo

"Porquê?

Para todos nós que assistimos, emocionados e solidários, a luta dos Timorenses pela liberdade, magoa e choca o que vem acontecendo nos últimos meses.

E a pergunta que se põe é: porquê?

Andamos distraídos, completamente alheios à realidade timorense de hoje, como sempre andamos? Ou algo de novo aconteceu, ameaça surgida de algum obscuro interesse externo com ramificações internas? Ou é sina deste povo (como tantos outros, se calhar) deitar a perder as oportunidades históricas para determinar o seu futuro?

O atrito entre a Igreja timorense e o Governo, algum tempo antes, era sinal de alguma coisa. Hoje impressiona-me aquilo que me parece ser o silêncio e passividade da Igreja perante esta violência. Ou, se calhar, nem silêncio, nem passividade, eu é que não consigo descortinar os sinais.

A demissão de um terço(!) dos efectivos do exército timorense, num país muito pobre, sem oportunidades de trabalho, parece um desafio ao bom senso. E o facto do presidente Xanana ter manifestado o seu desacordo também parece ser sinal de qualquer coisa.

E, de repente (pelo menos, para mim), começam-se a queimar edifícios e a matar pessoas. Em Dili o povo volta a "fugir para as montanhas", expressão que recorda os piores anos da Resistência. O Governo tem de apelar ao regresso de forças militares estrangeiras, desta vez para conter o que parece ser a eminência duma guerra civil (e aqui me vem à memória a comparação com a desgraçada sina da Guiné).

Por duas vezes neste texto utilizei a palavra "sina", porém, uso-a como artifício literário, sem lhe dar o valor que aparenta ter: não acredito em povos predestinados, malditos, eleitos ou condenados. Estou convencido, o que é diferente, é que a "repetição" da História é um fenómeno aparente, resultante de se voltarem a reunir condições idênticas ou semelhantes a outras do passado. E que uma sociedade só amadurece se enfrentar os seus problemas e conseguir ultrapassa-los com genuíno entendimento colectivo: penso como, a seguir ao 25 de Abril, Portugal passou da euforia à eminência duma guerra civil, logo resolvida com um processo algo longo que culminou com a entrada do país na Comunidade Europeia; todos os que vivemos esses anos, se recordarmos partidos políticos e individualidades, se calhar muitas das nossas próprias convições e atitudes desses tempos, veremos como todos nos tornamos mais tolerantes, mais consensuais, mais pragmáticos.

E, no caso de Timor, parece estar completamente ausente o factor externo, a tentativa de minar o país por parte de terceiros países. Ou será que não?

Ao ler aqui , ali e acoli (este último via timor on-line), confesso que sosseguei um pouco mais: a ser assim, o tempo e o bom senso podem ser suficientes, ainda que já de nada valha para quem foi morto."

3 comentários:

  1. Diz que "uma sociedade só amadurece se enfrentar os seus problemas e conseguir ultrapassa-los com genuíno entendimento colectivo: penso como, a seguir ao 25 de Abril, Portugal passou da euforia à eminência duma guerra civil, logo resolvida com um processo algo longo que culminou com a entrada do país na Comunidade Europeia; todos os que vivemos esses anos, se recordarmos partidos políticos e individualidades, se calhar muitas das nossas próprias convições e atitudes desses tempos, veremos como todos nos tornamos mais tolerantes, mais consensuais, mais pragmáticos" e não posso estar mais em desacordo. Há vinte anos, em Portugal, "atrelaram-nos" à Europa sem nunca nos pedirem a opinião e hoje estamos menos tolerantes, mais divididos e muito mais descrentes. E todos os dias vemos ameaçados direitos que alcançámos em 74-75, cada vez os empregos são mais precários e com menos direitos, agora até já falam em acabar com o subsídio de férias dos reformados.

    "Atrelaram-nos" à Europa para melhor nos controlarem, para melhor nos imporem as suas ideias e hoje importamos quase tudo o que comemos e cada vez produzimos menos e não tarda teremos turismo, serviços e pouco mais. E tudo começou por cá, pouco mais de um ano depois da libertação com a divisão da aliança povo-MFA que se acentuou depois de dividirem o MFA, o movimento das forças armadas.

    Importa que aí em Timor tenham a lição bem presente: não se dividam, não se deixem dividir, tenham como prioridade os interesses do povo e tentem conservar o essencial, isto é a defesa dos interesses do povo que é a verdadeira fonte da soberania.

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  2. Por muito que me custe. Por muito que ache que o povo maubere deu uma lição ao mundo de força e dignidade! A verdade é esta. Os povos são o percurso individual de cada um de nós. E há uma fase de indefinição, turbulência e afirmação que é própria da adolescência. Também os novos povos não fogem a ela... antes de amadurecerem. Mas como em tudo, há adolescentes conscientes e outros um pouco mais perdidos. Eu acredito em Timor!

    Nós por cá... ai esta velha Europa. Parece-me que se tem de encontrar nesta crise da meia idade. Perdeu as rédeas no cenário ingrato, por vezes, da globalização e da tirania (e não sou de esquerda... talvez nem de direita!!!)dos malditos interesses económicos não selectivos, tais quais umas "redes de arrasto".
    Lukutassi

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  3. Eu concordo com a Maria, o mais importante é nesta altura tão difícil manterem-se firmes, não de deixarem dividir e preservarem o mais importante a unidade entre os órgãos de soberania.

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