tag:blogger.com,1999:blog-28192219.post8919661692820591854..comments2024-03-24T18:22:40.376+09:00Comments on Timor Online - Em directo de Timor-Leste: Timor Leste, Indonesia and moral complexitiesUnknownnoreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-28192219.post-46126365758369141142007-05-03T21:15:00.000+09:002007-05-03T21:15:00.000+09:00Tradução:Timor-Leste, Indonésia e complexidades mo...Tradução:<BR/>Timor-Leste, Indonésia e complexidades morais <BR/>The Jakarta Post<BR/>3.05.2007<BR/><BR/>Franz Magnis-Suseno SJ, Jakarta<BR/><BR/>Na Terça-feira, Aboeprijadi Santoso expôs a hipocrisia moral que rodeia as audições em curso da Comissão Conjunta Indonésia-Timor-Leste para a Verdade e Amizada (CVA). Os factos a que aludiu estão acima de disputas. E a sua indignação moral parece apenas demasiadamente adequada. O escritor conclui que "a verdadeira amizade não deve ser baseada em mentiras para encobrir a verdade e perpetuar a impunidade".<BR/><BR/>Mas as coisas são na verdade tão simples assim? Quando a Indonésia e Timor-Leste estabeleceram conjuntamente a CVA fizeram-no não apenas em nome de verdade e amizade mas por causa de considerações políticas sérias. E com toda a razão. Porque como sublinha o filósofo Alemão Bernhard Sutor, a qualidade ética de uma decisão política não é medida por princípios de pura moral, mas pelas melhorias que realisticamente se podem esperar serem alcançadas por ela.<BR/><BR/>Ambos os líderes da Indonésia e de Timor-Leste reconheceram que a tarefa mais importante que enfrentavam não era compensação pelos crimes terríveis cometidos pela Indonésia de 1975 a 1999, mas o estabelecimento de relações normais, duradouras e positivas entre os dois países.<BR/><BR/>Os líderes Timorenses obviamente perceberam o que alguns estrangeiros moralmente indignados não perceberam : que a cessação de Timor-Leste foi um evento traumático não apenas para Timor-Leste, mas também para a Indonésia. Durante 24 anos Indonésios lutaram no Leste de Timor "para o bem da nação ". As famílias de muitos milhares de soldados caídos consolavam-se a si próprias com a ideia de que tinham morrido por uma causa justa. A oferta do referendo para a independência dos Timorenses pelo Presidente B.J. Habibie, corajosa mas completamente inesperada apanhou os Indonésios e obviamente os militares completamente de surpresa.<BR/><BR/>O resultado do referendo envergonhou seriamente a Indonésia. Envergonhar mais com a exposição dos crimes dos militares da Indonésia perante os olhos do mundo teria alienado a Indonésia de Timor-Leste por muito tempo e poderia mesmo resultar num retrocesso violento (lembro-me de um motorista de táxi Balinês dizer-me entusiasmado em Setembro de 1999 que estava pronto para ir para a guerra contra a Austrália).<BR/><BR/>Pensando mais tarde, pode-se perguntar porque é que os militares não usaram as suas milícias Timorenses para sabotar o referendo, o que teria sido bastante fácil. Pensavam mesmo na verdade que os Timorenses não votariam pela independência? Estavam de facto preparados para obedecer ao presidente, apesar de enraivecida e vingativamente?<BR/><BR/>De facto, a execução do referendo não foi obstruída significativamente. Houve, em 1999, duas vagas de violência especial, primeiro em Abril e depois o caos após a (prematura) publicação dos resultados do referendo. Ambas parecem terem sido mais a expressão de fúria e de ressentimento (o perigoso estado mental a que os Indonésios chamam keki ou dendam) do que actos de insubordinação.<BR/><BR/>Lembro-me de um chefe de milícia Timorense, penso que era Eurico Guterres, a dizer na televisão cerca de uma semana antes do referendo, que, caso houvesse uma maioria de votos pela independência, que ele garantia que nada que tivesse sido construído durante a governação pela Indonésia ficava em pé. E assim o fizeram. A devastação assassina de partes enormes de Timor-Leste foi na verdade uma expressão do ressentimento profundo sentido pelos militares Indonésios.<BR/><BR/>Mas há um ponto que tem sido completamente ignorado pela comunidade internacional que está a castigar a Indonésia por arrastar os pés para levar à justiça os perpetradores dos massacres e destruições pós-referendo. Nomeadamente que desde que os Indonésios retiraram em 1999 não ter havido um único exemplo sério de a Indonésia ou os seus militares tentarem criar problemas aos seus vizinhos do Leste.<BR/><BR/>Teria sido tão fácil. Lembram-se como em 1975 a Indonésia usou uma Guerra civil sangrenta e viciosa entre Timorenses – dezenas de milhares de Timorenses tinham fugido para território Indonésio – para intervir? Menos de oito anos depois de se libertar da Indonésia há, neste preciso momento, mais de 20,000 Timorenses a viverem em campos de refugiados – que, outra vez, tiveram de fugir dos seus próprios irmãos.<BR/><BR/>A aceitação da independência de Timor-Leste depois de 1999, e o facto de a Indonésia, incluindo os "negros" militares Indonésios, não tentarem usar os crescentes problemas internos de Timor-Leste para se vingarem eles próprios e desestabilizarem o país é um notável feito de responsabilidade.<BR/><BR/>Os líderes de Timor-Leste reconheceram este facto como da mais alta importância política para o seu país. Perceberam que a única coisa absolutamente a não fazer era levar a Indonésia, ou os militares da Indonésia ou alguns dos seus membros mais importantes a não se envergonharem outra vez.<BR/><BR/>por isso, concordaram na montagem da CVA na forma presente. Lamentar o âmbito limitado da comissão em nome da justiça ao mesmo tempo que se faz vista grossa da situação extremamente delicada em que se encontram a Indonésia e Timor-Leste, cheira-me a demasiadamente fácil auto-rectidão. Ainda não é a altura certa para abrir as profundezas da desumanidade deixadas por detrás da ocupação de Timor-Leste.<BR/><BR/>É sempre necessário tempo para se aceitar a verdade completa da história de cada um. A Indonésia ainda não foi capaz de enfrentar a verdade completa em relação aos acontecimentos de 1965 e de 1966, de 1998 (os motins em Jacarta com os mesmos números de mortes em três dias como em Timor-Leste em Setembro de 1999) e de muitas outras ocasiões. Mas este não é, de modo algum, um privilégio da Indonésia.<BR/><BR/>Os Japoneses não foram ainda capazes de reconhecer os crimes terríveis que cometeram entre 1930 e 1945 no Leste e no Sudeste da Ásia. Os Chineses estão calados sobre o anormal grau de desumanidade sob Mao-Zedong. No Cambodia os Khmer Vermelhos provavelmente nunca serão levados à justice pelo genocídio contra o seu próprio povo.<BR/><BR/>Mesmo em França, o povo e o governo ainda estão relutantes, mais de 60 anos depois dos acontecimentos, a reconhecer que muitos Franceses entregaram de bom grado judeus Franceses aos Alemães. E Checos e Polacos -- que, na verdade, sofreram bastante sob a Alemanha Nazi – ainda não querem reconhecer que, depois da II Guerra Mundial, cometeram atrocidades durante a expulsão de muitos milhões de Alemães.<BR/><BR/>Por isso, a CVA pode ficar aquém das exigências de alguns moralistas, mas nas condições prevalecentes é provavelmente o máximo a que se pode chegar. Ajudar os Indonésios a aceitar a existência de Timor-Leste é um serviço real que se presta a ambos os países.<BR/><BR/>O autor, um padre Jesuita, é professor na Escola de Filosofia Driyarkaraem Jacarta.Anonymousnoreply@blogger.com