tag:blogger.com,1999:blog-28192219.post295067096765526354..comments2024-03-24T18:22:40.376+09:00Comments on Timor Online - Em directo de Timor-Leste: Interview with Mari AlkatiriUnknownnoreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-28192219.post-44944356436503475522007-10-11T03:46:00.000+09:002007-10-11T03:46:00.000+09:00Tradução:Entrevista com Mari Alkatiri Aisana Press...Tradução:<BR/>Entrevista com Mari Alkatiri <BR/>Aisana Press Agency (Via ETAN) - Set 13, 2007<BR/><BR/>Andre Vltcheck entrevistou Mari Alkatiri em 13 de Setembro 13, no Hotel Sultan Hotel em Jacarta, Indonésia. Alkatiri foi o primeiro primeiro-ministro de Timor-Leste, servindo de Maio 2002 até 26 de Junho de 2006. <BR/><BR/>P: Neste momento qual é a relação entre a Indonésia e Timor-Leste?<BR/><BR/>R: As relações são muito boas, apesar de ainda termos algumas questões pendentes, questões menores que estão por resolver, tais como propriedades e fronteira terrestre. Esperamos que até ao fim deste ano essas questões possam estar resolvidas. E obviamente temos a Comissão da Verdade e Amizade a trabalhar e estamos à espera do relatório com as conclusões.<BR/><BR/>P: O que é que espera da Comissão da Verdade e Amizade?<BR/><BR/>R: Já estou for a do poder e fora do governo, por isso não posso realmente contar muito. Mas penso que se do seu trabalho surgir alguma verdade, será muito importante. Ambas as nações precisam de conhecer a verdade. Acredito também que o processo de democratização em ambos os países trará eventualmente soluções para os problemas existentes.<BR/><BR/>P: Mas pode-se alcançar alguma conclusão dado o facto de o povo da Indonésia não saber o que o seu próprio governo e militares fizeram durante a ocupação?<BR/><BR/>R: É esse o ponto exactamente. Apenas serão possíveis soluções se ambos os lados forem informados do que realmente aconteceu. O caminho para a solução é a verdade. As pessoas têm de socializar; têm de compreender. Penso que este é o alvo principal. Se alcançado, então os dois países podem começar de novo. É para a Comissão decidir se procuram justiça ou oferecem amnistia. Entretanto, ambos os governos têm de lidar com este assunto com muito cuidado, de modo a reforçar a amizade e a não porem em perigo tudo.<BR/><BR/>P: Mas não estamos apenas a falar de violações aos direitos humanos; estamos a falar de genocídio. Um terço da população de uma nação pequena ou desapareceu ou morreu como consequência da ocupação…<BR/><BR/>R: Temos ainda a Comissão a trabalhar na questão dos desaparecidos. Recentemente na semana passada tive uma reunião com a Cruz Vermelha, e obviamente eles estão a trabalhar na questão dos desaparecidos … Esta questão tem de ser clarificada; há ainda famílias com membros desaparecidos. Os seus queridos pais e mães e outros membros da família … Mas estas coisas demoram.<BR/><BR/>P: Estão os militares, o governo e mesmo a população Indonésia receptivos? Estão receptivos para assumirem responsabilidades por décadas de ocupação e pelas suas consequências?<BR/><BR/>R: Penso que esta questão tem que ser dirigida a eles. Mas sinto que se estão a mover na direcção certa.<BR/><BR/>P: Quando se encontra com membros da população Indonésia eles sabem o que aconteceu no seu país? Têm eles ideia da escala do que ocorreu?<BR/><BR/>R: Penso que não … Penso que não. A população em geral não tem ideia da escala. E precisam definitivamente de saber.<BR/><BR/>P: Quando se reúne aqui com entidades do governo, e lê os jornais locais na manhã seguinte, sente que dão cobertura objectiva e detalhada da questão?<BR/><BR/>R: Não é fácil para as entidades daqui lidarem com esta questão, porque há ainda um período pequeno de tempo de transição na Indonésia de um regime para outro … e eles precisam de lidar de um modo muito cuidadoso com este tipo de questões. Temos de compreender isso.<BR/><BR/>P: Vê algumas semelhanças entre o que aconteceu no seu país e o que está a acontecer agora na Papua?<BR/><BR/>R: Sim, agora há alguma resistência na Papua. Todos nós sabemos isso muito bem. Aceh está arrumada, mas a Papua está ainda a enfrentar problemas.<BR/><BR/>P: Voltando a Timor-Leste, aonde é que agora pertence o seu país? Estão a negociar com o Fórum do Pacífico, estão a melhorar os laços com a Indonésia, e as relações com a Austrália estão tensas…<BR/><BR/>R: Esse é um dilema de um país pequeno. Estamos entre dois blocos regionais e temos realmente de pesar as opções. Candidatámo-nos a ser membro da ASEAN [Associação das Nações do Sudeste Asiático], somos já membro da ARF [Fórum Regional da ASEAN], mas beneficiamos também do estatuto de observador do Fórum do Pacífico. Infelizmente não podemos ser membros de ambos. Sim, infelizmente; de outro modo seria mais fácil para nós. Sentimo-nos divididos. Gostamos ainda de cooperar com o Fórum do Pacífico, sendo membros da ASEAN. Talvez que um dia as coisas mudem e nos autorizem a seremos membros de ambos.<BR/><BR/>P: Neste momento quais são as relações com a Austrália?<BR/><BR/>R: O que fiz quando era primeiro-ministro foi defender os interesses do meu povo. Não fiz nada contra a Austrália. Mas algumas pessoas interpretaram defender os interesses do meu povo como ir contra a Austrália. Nunca fui contra a Austrália, mas fui eleito primeiro-ministro de Timor-Leste e tive de lidar com questões extremamente complicadas relativas aos recursos vitais do meu país – recursos sob o Mar de Timor. Deu o meu melhor para obter tanto quanto pude para o meu povo. Isso não é um crime.<BR/><BR/>P: Houve bastante torcer de braço da parte da Austrália. No fim, foi alcançado um compromisso entre os dois países. Está satisfeito com a conclusão?<BR/><BR/>R: A Austrália fez um grande esforço para chegar a acordo connosco. Não estamos ainda satisfeitos, porque pensamos que 100% da riqueza devia pertencer-nos. Mas é melhor ter 50% do que nada. Esse é o ponto.<BR/><BR/>P: Alguma vez sentiu que o seu país quase que não tinha qualquer possibilidade contra uma nação tão poderosa quanto a Austrália? O seu país foi para vários tribunais e organismos internacionais à procura de intermediação. A Austrália simplesmente retirou-se da jurisdição do Tribunal Internacional da Justiça sobre fronteiras marítimas.<BR/><BR/>R: Sejamos realistas. É assim que o mundo funciona. Mas há que lutar, e tentar fazer o melhor para o seu povo. Às vezes quando se actua assim, cria-se inimigos. Mas há que ser-se corajoso. Acredito que se chegássemos ao tribunal, que teríamos definitivamente ganho. Eu próprio sou advogado e consultei gente de muitas nações. Estava confiante. Mas visto que a Austrália se decidiu retirar do tribunal – os tribunais internacionais não são como os tribunais domésticos – não se pode recorrer para o tribunal se o outro país não aceita a sua jurisdição. Tais situações são sempre a favor dos grandes poderes, nunca dos países pequenos. Estes podem apenas lutar, até ao ponto em que entendem que estão a obter tanto quanto há sob as regras presentes … e depois têm que aceitar isso.<BR/><BR/>P: Internamente, há ainda muita desilusão e muita amargura relativamente aos desenvolvimentos no país da parte de muitos membros da FRETILIN. Mas como estão as coisas equal é agora a posição da FRETILIN em Timor-Leste?<BR/><BR/>R: Ganhámos ainda as eleições recentes. Tivemos cinco anos de governação muito difícil, porque a situação que herdámos era muito complexa. Tivemos de começar do zero, mas algumas pessoas não compreenderam que não tínhamos Estado, nenhumas instituições. Obviamente que tínhamos a Constituição e governo – e um Presidente e Parlamento eleito – mas o Estado como instituição - não. Tivemos de construir tudo do nada, incluindo a moldura legal. Sem se ter um Estado real, não se consegue desenvolver políticas sócio-económicas coerentes. É este o ponto. Mas é muito difícil explicar isto às pessoas que têm expectativas muito altas desde o momento da independência. Para resumir, a FRETILIN deu ao país expectativas extremamente altas num período de tempo muito curto. As pessoas lutaram durante 24 anos para obterem a sua independência. Depois de a ganharem, era impossível alcançar todas as coisas do dia para a noite. Tivemos de construir a nação e o Estado simultâneamente.<BR/><BR/>P: Na sua opinião qual foi o sucesso do processo de construção da nação e do Estado? Foi, no fim de contas, um sucesso, dado que ocorreu em tão pouco tempo?<BR/><BR/>R: Foi um sucesso, mesmo com as crises de 2006. Foram feitas muitas coisas. Alcançámos uma gestão fiscal e macro-económica muito sólida. Criámos uma moldura legal e demos instituições a funcionar ao país. Tudo foi feito com base no domínio da lei. E não se pode fazer isto do dia para a noite. Continuo a acreditar que alcançámos mais em quarto anos do que muitos países alcançaram em 10 a 20 anos, especialmente em termos de esforços para construção do Estado. Herdámos um país sem dinheiro absolutamente nenhum. Nem um único cêntimo nos pertencia e no princípio tivemos de trabalhar apenas com dinheiro dos dadores. Graças às negociações com sucesso com a Austrália temos agora o nosso próprio orçamento. E de repente é fácil prometer coisas ao povo. Mas em 2002 até 2005 ainda era impossível fazer qualquer promessa realística.<BR/><BR/>P: Com os rendimentos do petróleo e do gás como é que vão ser dramáticas as mudanças em Timor-Leste?<BR/><BR/>R: Se os rendimentos forem bem geridos, mudará dramaticamente toda a situação social e económica. Agora somos de facto capazes de responder às necessidades dos ex-combatentes. Eles já podem receber uma casa, alguma pensão. Estamos na posição de responder.<BR/><BR/>P: A FRETELIN historicamente é um movimento de esquerda. Quando discuti esta questão com Xanana Gusmão ele já estava a afastar-se das ideias do Marxismo. Mas em que extensão é ainda a FRETILIN uma força de esquerda, socialista?<BR/><BR/>R: A FRETILIN nunca foi um movimento Marxista. Como movimento e como frente, tentei envolver toda a gente. E se se inclui toda a gente, não se pode ser ideológico. Em segundo lugar, quem é que em 1981 declarou que a FRETILIN era um partido Marxista-Leninista? Foi o próprio Xanana.<BR/><BR/>P: Mas então ele negou isso …<BR/><BR/>R: Exactamente. Pouco depois ele viu que tinha cometido um erro. Depois tentou mudar tudo, apenas para mostrar ao povo que já não era mais um Marxista. Apesar de tudo, neste mesmo presente dia a FRETILIN é um membro total da Internacional Socialista.<BR/><BR/>P: O que é que isso significa em termos práticos em Timor-Leste?<BR/><BR/>R: Em termos práticos a FRETILIN, como qualquer outro partido que ganhe as eleições tem que resolver problemas reais – pobreza e a necessidade de melhor educação e cuidados de saúde. A nossa Constituição promete educação e cuidados de saúde gratuitos. Mas a questão principal é a erradicação da pobreza no país. Um governo não pode sobreviver se não progredir nestas questões. Hoje em Dili, estão a discutir planos para o novo governo e é já óbvio que nada mais serão do que uma cópia clara dos planos implementados anteriormente pelo meu governo. Continuam a dizer que vão mudar isto e aquilo, mas na realidade não haverá mudança de maior, apenas continuidade. A única diferença é que agora podem prometer mais do que nós, porque têm fundos.<BR/><BR/>P: Para onde é que as coisas irão?<BR/><BR/>R: Já tínhamos começado a implementar novas políticas em 2005 e 2006. Demos mais atenção ao desenvolvimento da comunidade, ex-combatentes, veteranos, viúvas e órgãos. Logo que começaram a chegar os rendimentos do petróleo, aumentámos o orçamento duas vezes e agora três vezes. E começamos com os programas que lidavam com o desenvolvimento rural. Começámos também o processo da descentralização, com projectos pilotos em quatro distritos.<BR/><BR/>P: A educação mantém-se o desafio principal.<BR/><BR/>R: Da nossa população de cerca de 1 milhão, pelo menos 300,000 crianças e adultos têm de ir à escola todos os dias. Isso significa que precisamos pelo menos de 6,000 a 7,000 de professores qualificados. Temos 300 professores de Portugal e estamos a tentar a vinda de muitos da Indonésia. Um problema que temos é a língua. Muita gente não fala ainda Português bem, enquanto o Bahasa Indonésio deles está a degenerar.<BR/><BR/>P: Apesar de todos os problemas que o seu país está a enfrentar mantém-se optimista?<BR/><BR/>R: Sim, definitivamente. Todo o nosso país passou por um período muito difícil. Todos nós devíamos aprender lições das crises e tentar resolvê-las politicamente. A nível internacional, estamos apertados entre dois gigantes - Indonésia e Austrália. Precisamos de ter boas relações com ambas. Mas com a Indonésia não é uma opção – é uma obrigação.<BR/><BR/>Mari Bim Amude Alkatiri é o secretério-geral da FRETILIN.Anonymousnoreply@blogger.com