14 de Outubro de 2008, 12:17
Díli, 14 Out (Lusa) - O bispo de Baucau, Basílio do Nascimento, costuma dizer aos colegas europeus em Timor-Leste que "os princípios de Descartes não se aplicam aqui".
"Os pensamentos lógicos cartesianos não são inteiramente aplicados", explicou o bispo de Baucau à Agência Lusa este fim-de-semana, em Soibada, distrito de Manatuto (centro).
Abordar a concordata entre Timor-Leste e o Vaticano, que está a ser finalizada em Díli, implica falar da influência da Igreja no Estado e também questionar a experiência religiosa de José Ramos-Horta no seu desempenho como chefe de Estado.
"A afirmação da fé do líder aproxima o povo da liderança", responde Basílio do Nascimento.
Basílio do Nascimento ressalva que não pretende arriscar um "processo de intenção" e que "a caminhada espiritual de Ramos-Horta é uma coisa pessoal".
"No entanto, como todos os fenómenos, é observável do exterior" e, portanto, passível de análise, que o bispo de Baucau admitiu fazer para a Lusa.
"Se ler a constituição de países europeus, como Portugal ou França, é claro que os políticos não têm o direito de afirmar a sua religião. Mas aqui na Ásia é diferente", nota Basílio do Nascimento.
"Na Ásia, a dimensão religiosa do líder é muito apreciada e é muito importante para o seu currículo", diz.
O Presidente da República, que foi aluno no Colégio de Soibada, foi este ano o peregrino "de honra" na peregrinação anual de Nossa Senhora de Aitara, um santuário sobranceiro à aldeia.
"Não sei qual é a influência da fé no trabalho de Ramos-Horta como Presidente. Mas como homem, sim, tem uma influência nele e, indirectamente, pode actuar no seu trabalho", admite.
"É muito possível que Ramos-Horta não tenha recebido uma formação muito estruturada sobre o conhecimento de Jesus Cristo mas penso que é alguém que, ao longo da sua vida, fez perguntas sobre isso mesmo", acrescenta.
"Há uma busca muito profunda do lado religioso e de Cristo na vida de Ramos-Horta. Penso que passa a dimensão cultural apenas para entrar na dimensão do sentido da vida", afirmou ainda Basílio do Nascimento.
"O que o levou a isso? Tenho a certeza que a experiência do 11 de Fevereiro ajudou Ramos-Horta a aprofundar um bocado mais ou a sentir-se correspondido na sua busca", responde o bispo.
"Ele próprio usa as imagens e sensações que ele teve como sendo intervenção divina na sua vida. São muito pessoais", conclui Basílio do Nascimento.
José Ramos-Horta, na sequência de um ataque pelo grupo do major Alfredo Reinado à sua residência em Díli, foi atingido a tiro e transferido para Darwin, Austrália, em coma profundo.
O próprio chefe de Estado afirmou que a sua sobrevivência é algo que "só os bispos ou o Vaticano podem explicar".
"A vida é curta e a vida é bela", disse José Ramos-Horta à Lusa em Soibada sobre o que mudou nele depois de Fevereiro.
"Deus deu-me uma segunda oportunidade para nenhum outro objectivo que ajudar o meu povo e o meu país", explicou.
José Ramos-Horta manifestou o seu total apoio à concordata com a Santa Sé e adiantou que "os valores do Vaticano são os valores de Timor-Leste".
"Não há timorenses que não sejam religiosos", frisou também o chefe de Estado sobre reacções adversas à assinatura da concordata.
"A sociedade timorense reage (à experiência de fé do Presidente) partilhando e admirando", resumiu o bispo Basílio do Nascimento antes da missa vespertina, sábado passado, em Soibada - a que o Presidente decidiu não ir porque, "com a missa de domingo, seriam missas a mais".
PRM.
Lusa/fim
Quer o Bispo queira, quer não, a Terra continua a andar à volta do Sol e Timor-Leste não vive na Idade Média...
Patético.
Tão todos xonés!... :-)
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