quinta-feira, março 06, 2008

Entrega do grupo de Salsinha "esperada" para sexta-feira

Díli, 06 Mar (Lusa) - A entrega do ex-tenente Gastão Salsinha e do seu grupo "é esperada para sexta-feira", afirmaram fontes militares e internacionais à Agência Lusa em Díli, Timor-Leste.

"A cerimónia da entrega do grupo e das armas já devia ter acontecido hoje", declarou à Lusa, quinta-feira à noite (princípio da tarde em Lisboa) uma fonte que acompanha as negociações para a entrega do líder dos peticionários das Forças Armadas timorenses.

Gastão Salsinha concordou entregar-se às autoridades timorenses, com o seu grupo, depois de uma reunião em Letefoho, distrito de Ermera, quarta-feira à noite, conforme avançou hoje a Lusa.

"O acordo foi estabelecido directamente com Gastão Salsinha. As armas serão entregues ao Presidente interino (Fernando "La Sama" de Araújo) numa cerimónia. A Polícia das Nações Unidas (UNPol) será provavelmente responsável pela segurança da rendição, visto ele não querer elementos das Forças Armadas", declarou à Lusa uma fonte ligada à negociação de Letefoho.

Fontes militares e internacionais em Díli confirmaram à Lusa que o acordo para a entrega de 32 homens e 18 armas foi alcançado "em conversações directas" que envolveram a Procuradoria-Geral da República.

O acordo de Letefoho prevê a entrega de um grupo de 28 fugitivos, incluindo Gastão Salsinha, e de mais quatro elementos dispersos no distrito de Suai, a região mais a sudoeste do território timorense.

No entanto, a cerimónia de entrega de Salsinha não aconteceu hoje, nem foi anunciado oficialmente a que horas poderá acontecer na sexta-feira.

Há quatro dias que o Comando Conjunto da operação "Halibur" de captura de Salsinha e seus homens não realiza nenhuma conferência de imprensa.

A reunião directa das autoridades timorenses com Gastão Salsinha culminou três dias de negociações intensas e incertas, "através de vários canais e de mensagens trocadas por diferentes intermediários" com o ex-tenente e dele com o seu grupo, segundo as mesmas fontes.

"Gastão Salsinha é extremamente desconfiado e tem feito perguntas e procurado garantias sobre quem fará a rendição, quem estará à espera em Díli, que tratamento terão e vários outros detalhes", afirmou à Lusa uma fonte que acompanhou de perto o moroso processo negocial.

"Desde segunda-feira que há um acordo de princípio para a entrega de Gastão Salsinha, mas a negociação procura a rendição do grupo completo através do seu chefe", acrescentou a mesma fonte.

"Uma coisa é o acordo atingido em Letefoho. Outra bem diferente é a concretização, com a entrega do grupo", afirmou ainda a fonte sobre as dificuldades de negociar a entrega dos homens de Gastão Salsinha.

Gastão Salsinha chefia o grupo de homens que acompanhavam antes o major Alfredo Reinado e que atacaram a residência de José Ramos-Horta e a caravana de Xanana Gusmão, a 11 de Fevereiro de 2008.

Catorze mandados de captura, cinco dos quais assinados hoje, foram até agora emitidos com relação aos ataques contra José Ramos-Horta e Xanana Gusmão.

Dois dos mandados foram cumpridos com a entrega de Amaro da Costa, conhecido por Kaer Susar, e de Domingos Amaral às autoridades.

Os cinco novos mandados de captura emitidos hoje referem-se a elementos das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste, afirmou à Lusa fonte judicial.

Depois de lhe ser imposta a medida de prisão preventiva, Kaer Susar foi recusado à porta do Estabelecimento Prisional de Becora.

Segundo fontes judiciais, o antigo elemento da Polícia Nacional pernoitou terça-feira em Becora, mas foi transferido para uma casa no centro da cidade no dia seguinte.

Kaer Susar foi retirado de Becora e transferido para a principal avenida de Díli, no bairro comercial de Colmera, na sequência de um pedido feito à ministra da Justiça pela Direcção Nacional dos Serviços Prisionais.

Esse pedido, segundo as mesmas fontes judiciais, foi anterior ao interrogatório e ao despacho do juiz internacional Ivo Rosa que decretou a medida de prisão para Kaer Susar na terça-feira.

O pedido alude a receios com a presença do resto do grupo de Salsinha em Becora, não apenas com Kaer Susar.

Kaer Susar, que se entregou sábado à noite às autoridades no distrito de Manufahi, confessou no domingo diante da imprensa ter participado no ataque à residência de José Ramos-Horta.

Susar, que "estava ao portão" da casa do Presidente, é o primeiro acusado pelos ataques de 11 de Fevereiro.

PRM.
Lusa/fim

2 comentários:

  1. E a filosofia dos acordos continua...
    "Acordo" sobre o quê? Qual o perfil do referido "Acordo de Latefoho"? O Salsinha não quer as Forças Armadas do seu país envolvidas no processo?
    Até pode não ser mau para estas --- a velha questão dos 'lorosae' a perseguirem os 'loromonu'... --- mas essa deveria ser uma decisão das F-FDTL e do Estado Timorense e não de um (até agora) foragido à justiça.
    O pior é que o 'soît disant' "Estado Timorense" é, cada vez mais nítidamente, uma realidade virtual, uma "alcunha" para o regime de "liurado" em vigor e feito à medida de uma classe-política-sem-classe que gosta de brincar aos liurais.

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  2. Concordo e acrescento que não percebo porque é que isto (localização e rendição do grupo de Reinado e Salsinha) não foi feito durante estes dois anos. É que afinal parece que até nem era difícil. Quem tornou isto difícil foram os políticos que não quiseram dar o passo em frente.

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