Diário Digital/Lusa
05-05-2007 13:26:33
O primeiro-ministro e candidato às presidenciais timorenses, José Ramos-Horta, foi hoje novamente o alvo principal das críticas da Fretilin na última grande acção de campanha do candidato do partido, «Lu Olo», em Díli.
Com cerca de 300 pessoas no Parque da Independência, o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri foi o primeiro orador da Fretilin a criticar o seu sucessor na chefia do Governo e considerou que se Ramos-Horta conquistar a presidência e Xanana Gusmão a chefia do Governo, Timor-Leste será um país adiado.
«Não acredito que Timor-Leste entre num beco sem saída porque há sempre uma saída. O que pode ser é um país adiado por cinco ou dez anos», afirmou Mari Alkatiri.
«Não tenho dúvida nenhuma que se o presidente for Ramos-Horta e o primeiro-ministro Xanana Gusmão, este país vai enveredar por um caminho de desenvolvimento que será insustentável, o que significa que daqui a 20 anos teremos um país completamente em ruínas», disse.
Alkatiri, que abandonou o executivo timorense na crise política e militar de Abril e Maio de 2006, disse também que o caminho de um Governo de unidade nacional não é a melhor solução para Timor-Leste porque «não há democracia nenhuma que sobreviva sem oposição».
«Transformar o governo num mini parlamento é tornar o país ingovernável», afirmou ao questionar «quem faz oposição a quem se o governo é um mini parlamento?».
«Esse caminho é que é perigoso porque se há dois ou três partidos que se coligam e os outros fazem oposição é muito mais saudável do que ter todos no governo», considerou.
Na sua intervenção perante os apoiantes de «Lu Olo», Mari Alkatiri disse que José Ramos-Horta «é que é uma pessoa que não tem ideias próprias, não tem ideias sistematizadas» e que «hoje diz uma coisa, amanhã outra».
No rol de críticas, Alkatiri disse também que Ramos-Horta «já demonstrou não ter capacidade de gerir os interesses do Estado nestes últimos dez ou onze meses que esteve à frente do Executivo».
«Quem, como primeiro-ministro com os poderes todos que tem, não conseguiu resolver os problemas não é como presidente que vai conseguir», sublinhou.
Prosseguiu dizendo que o Prémio Nobel da Paz é também uma pessoa «sem grande solidez democrática», dando como exemplo a sua (de Ramos-Horta) intenção de «dar ordens ao Procurador», o que para Alkatiri demonstra a «sua vertente de ditador e de não estar preparado para ser presidente num Estado de Direito democrático».
Sobre a alegada compra de votos por parte de Ramos-Horta, Mari Alkatiri reafirmou ter provas e revelou novos dados e mensagens de telemóvel trocadas com o primeiro-ministro para quem reencaminhou um «sms onde se prometia uma moto a um coordenador da Fretilin que conseguisse mobilizar pessoas para votar em Ramos-Horta».
«O Ramos Horta reconheceu que a mensagem era dele e eu disse que tinha mais provas, mas que não queria fazer este tipo de acusações se ele não fizesse porque ele por tudo e por nada acusa a Fretilin de comprar votos, de comprar cartões de eleitor e de andar a intimidar as pessoas», afirmou.
Alkatiri reafirmou ainda a «intimidação» alegadamente feita pelas tropas australianas sobre as populações ao afirmarem que Ramos-Horta é melhor que «Lu Olo».
Ao dirigir-se aos seus apoiantes, «Lu Olo» explicou que Ramos-Horta «tem vindo a enganar as pessoas e a fazer promessas que não são cumpridas» e garante ter um compromisso que é para cumprir perante o povo.
Francisco Guterres «Lu Olo», que conquistou 112.666 votos na primeira volta correspondentes a 27,89%, aproveitou também para criticar o seu adversário pelas «falsas declarações e acusações que faz contra a Fretilin» e contra a sua candidatura que fazem uma campanha com «dignidade».
«Votar em mim é sinónimo de votar para a estabilidade e para a paz e para a consolidação do Estado democrático que queremos consolidar e defender a nossa soberania», disse.
«Lu Olo» afirmou também que Ramos-Horta e Xanana Gusmão «querem inverter posições» políticas, trocando de cadeiras de Estado e criticou as forças internacionais que actuam de forma deliberada para o prejudicar.
«Ainda outro dia em Ainaro as tropas australianas interferiram com ruído de helicóptero e depois tropas armadas no meio da população», disse, considerando ser uma clara «interferência» dos militares e acusando o seu adversário de ser solicitar essa interferência.
Timor:Forças Internacionais negam estar promover Ramos-Horta
ResponderEliminarAs Forças de Estabilização Internacionais (ISF) estacionadas em Timor-Leste refutaram hoje estar a dar qualquer apoio à campanha de José Ramos-Horta em detrimento do candidato da Fretilin como acusa aquele partido político.
Em resposta a uma questão apresentada pela agência Lusa que deriva das acusações da Fretilin de que as forças internacionais, nomeadamente australianas, estariam na região leste do país a promover a candidatura de José Ramos-Horta em detrimento da de «Lu Olo», o porta-voz Ivan Benitez-Aguirre disse que as ISF «respeitam o processo democrático» de Timor e considera «inapropriado» qualquer comentário político.
«Respeitando a atenção que é dada ao processo eleitoral em Timor-Leste, as ISF não irão conceder qualquer entrevista durante a campanha eleitoral», refere, a resposta escrita, ao salientar também que os elementos daquela força «estão espalhados pelos vários distritos para apoiar o programa de segurança das eleições».
«As ISF mantêm uma posição neutral e imparcial neste processo e não fizeram nenhum comentário de apoio a qualquer candidato ou partido político», acrescenta a nota.
Relativamente a um caso em que a 28 de Abril em Ermera foi fiscalizada uma carrinha com 60 apoiantes da Fretilin onde foi encontrada uma arma artesanal e vários maços de dinheiro no valor global de cerca de cinco mil dólares e divididos com nomes de várias aldeias, as ISF recusaram qualquer comentário salientando que o caso está a ser investigado pela polícia das Nações Unidas pelo que «qualquer questão deverá ser dirigida àquela força».
Na sexta-feira, Mari Alkatiri negou numa conferência de imprensa que as forças internacionais tenham encontrado qualquer arma mas escusou-se a falar sobre o dinheiro.
A resposta de Ivan Benitez-Aguirre sustenta ainda que as ISF estão em Timor-Leste em resposta ao pedido de ajuda do Governo para apoio ao restabelecimento da paz e estabilidade no país e que é sua missão ajudar o Governo local e as Nações Unidas a «manter a estabilidade e assegurar um ambiente de segurança que permita aos timorenses resolver as suas diferenças de forma pacífica».
A segunda volta das eleições presidenciais timorenses disputam-se quarta-feira, 09 de Maio, entre os candidatos José Ramos-Horta e Francisco Guterres «Lu Olo».
Diário Digital/Lusa
05-05-2007 13:41:23
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