Pedro Sousa Pereira (texto) e António Cotrim (fotos), da Agência Lusa Baucau, Timor-Leste, 19 Mar (Lusa) - Um homem pequeno de calções, sapatilhas e uma camisola do FC Porto anda de um lado para o outro de martelo na mão, arrasta máquinas, sobe escadas, ajuda a soldar tubos no tecto e a cortar toros de teca.
O equipamento está a funcionar na nova oficina de Baucau, entre as montanhas do Mundo Perdido e o mar, sob as ordens do padre Feliciano Garcês, do seminário de Rio Tinto, filho de um carpinteiro de Paredes, vestido como um operário, de camisola do Futebol Clube do Porto, e que diz adormecer embalado ao som das plainas.
"Eu nasci numa carpintaria. O meu pai é carpinteiro, os meus irmãos trabalham na mesma actividade e eu desde muito novo aprendi o ofício a ajudar o meu pai. Lembro-me de adormecer ao som da plaina. Embala-me. Para mim é quase música", diz o padre Feliciano à agência Lusa, em Baucau.
O ruído das máquinas e o barulho da chuva são tudo menos música. Mais, não deixam dormir ninguém.
Com a chegada do equipamento terminam quatro anos de trabalho que envolveu o bispo D. Basílio do Nascimento, a Câmara Municipal de Paredes e Governo português.
A ideia de construir uma carpintaria surgiu em 2000, altura em que o padre Feliciano se encontrava em Baucau.
"Um dia, na companhia do bispo D. Basílio, vi que um padre que visitamos fora da cidade só tinha uma cadeira de plástico e uma porta improvisada. O bispo explicou-me que era o que tinham. De regresso a Baucau fomos falando e eu foi-lhe dizendo que, em Paredes, de onde sou natural, não teria qualquer dificuldade em conseguir apoios para fazer uma carpintaria", recorda o padre Feliciano.
O sacerdote do seminário de Rio Tinto entrou então em contacto com o município de Paredes, que já tinha um projecto para ajudar a montar uma fábrica em Timor.
De carpintaria, o projecto passou a fábrica e, depois, a Centro Tecnológico.
"Esta fábrica pretende formar carpinteiros e criar também uma política de replantação de teca na ilha, através de uma mensagem muito simples: por cada árvore cortada devem-se plantar três, para abastecer a população de mobiliário essencial, sobretudo as escolas", disse o padre Feliciano enquanto ajudava os trabalhadores timorenses.
Jaime Soares, natural de Baucau, 41 anos, vai ser o chefe da carpintaria. "Tenho experiência do tempo indonésio como carpinteiro, em Fatumaka, e agora vou ajudar os outros a serem homens, aqui", disse.
Jaime Soares vai ganhar 155 dólares por mês (cerca de 120 euros) e dirigirá uma equipa de 25 homens, 18 dos quais já têm alguma experiência como carpinteiros.
O padre Feliciano Garcês tem 38 anos e pertence à congregação dos padres Dehonianos, com seminário em Rio Tinto, distrito do Porto, onde se encontra quando não está em Timor-Leste.
Nos anos 90 do século passado foi missionário em Madagáscar, onde colaborou igualmente na edificação de estruturas.
Em Timor-Leste, depois do sonho da carpintaria, o padre Feliciano quer partir para a recuperação de casas, sobretudo das antigas construções coloniais portuguesas da região.
"Gostava, dentro de ano e meio, ter por cá fornos para cozer barro e fazer telhas de meia-cana e máquinas para construir tijolos. Gostaria também que em Baucau surgisse uma pequena barragem para a produção de energia para ajudar a implementar um projecto agrícola, porque o solo é fértil e a chuva ajuda. Mas agora não há nada", afirma.
De acordo com o padre Feliciano, é possível fazer com que as populações sejam auto-suficientes no que diz respeito a produtos agrícolas mas, em Baucau, uma cidade que desce de um planalto até à praia, as hortas são pobres e não existem sistemas de regadio ou mesmo pequenas albufeiras para a rega durante os meses mais secos.
Chove em Baucau desde a semana passada mas a água da chuva passou pelas hortas desordenadas, frente à nova carpintaria, e perde-se em mil riachos pela encosta a baixo.
Lusa/Fim
Estão de parabéns o padre Feliciano, o Presidente da Câmara de Paredes, os empresários deste concelho e todos os que contribuiram para a concretização deste projecto.
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