quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Dos leitores

Comentário sobre a sua postagem "“Timor regrediu dez a 15 anos com a crise de 2006”...":

O engº Mário Carrascalão, meu antigo vizinho e membro de uma conhecidíssima e numerosa família, é um dos grandes valores de Timor-Leste. Quando foi governador indonésio de Timor, houve quem visse nisso algum colaboracionismo. Não acredito, porque sei que MC é homem de convicções inabaláveis e não vira a casaca como muitos. Eu tenho a certeza de que ele ajudou muito o povo timorense. Naquela altura, Mário Carrascalão foi o melhor possível que Timor poderia ter. Tem contra si o facto de estar do lado oposto da barricada em relação ao partido dominante, o que lamentavelmente impede que as suas qualidades sejam aproveitadas em prol do País, a não ser que haja um terremoto na próxima eleição legislativa.

Também eu gostava que esses escassos valores de Timor pudessem estar todos do mesmo lado e trabalhar em conjunto, como foi durante a ocupação indonésia. Mas infelizmente temos que aceitar a realidade e essa diz-nos que o implacável sistema partidário divide inevitavelmente as pessoas. Paradigma desta minha afirmação e da utopia da "união nacional" são os irmãos Carrascalão (João e Mário) que seguiram caminhos divergentes, depois de terem começado juntos na UDT.

No entanto, essas diferenças ideológicas não devem sobrepor-se às regras de sã convivência entre seres humanos, que são adversários mas não devem ser inimigos. A política às vezes cega as pessoas e isso acontece a gente de qualquer quadrante político.

Portanto, a "união nacional" é uma utopia. Uma ideia bonita, mas utópica. Já Salazar sonhou com ela. Estaline também gostava da "União das Repúblicas Socialistas". Mas dificilmente os Homens estão de acordo em tudo; hão-de discordar, nem que seja na marca de cerveja preferida ou no clube do seu coração.

Resta-nos trabalhar com o sistema político que temos e... andar para a frente. Felicidades, engº Mário Carrascalão.

Henrique Correia
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5 comentários:

  1. Isto deve ser um gozo... MC um homem de conviccao? so se for convicto a propria ambicao, porque e so nisso que ele pensa. um homem que esteve sempre a colaborar com invasores (portugueses, indonesios) e agora quer aparecer como se tivesse sempre sido um grande defensor da libertacao.

    Esta certo quando diz que "a politica as vezes cega a pessoa" porque esse deve ser o caso do autor do texto acima...

    existe uma diferenca entre ter simplesmente diferenca de ideias politicas e ser oportunista... pense bem nisso...

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  2. Ao chamar "invasores" aos portugueses, o ilustre Anónimo revela logo à partida o seu "amplo" conhecimento da História recente de Timor. Perante isto, não espanta que tenha uma opinião sobre MC formada a partir do diz-que disse, visto que obviamente não o conhece em pessoa.

    Não tenho procuração de MC para defendê-lo, mas não suporto ver a verdade maltratada. Apesar de cego, ainda tenho os restantes sentidos a funcionar. E a memória também. Para sua informação, o engº Mário Carrascalão não "colaborou" com "invasores" portugueses nenhuns. Éramos todos portugueses e éramos todos timorenses, ao mesmo tempo. MC até é mestiço, filho de português e de mãe timorense. Antes de 1975, era o responsável máximo pela Agricultura e Florestas da sua terra - Timor - inteiramente por mérito próprio.

    Sobre a sua "ambição", só lhe digo que, até 1975, ele foi um dos pouquíssimos timorenses que, depois de completarem o seu curso superior em Portugal, regressaram à terra natal para lhe darem o seu contributo e porem em prática aquilo que haviam aprendido. Os outros ficavam na Metrópole portuguesa, onde a vida lhes acenava com certas mordomias, ou sobretudo para se dedicarem a fantasias revolucionárias (que contribuiriam mais tarde para o descalabro timorense), devidamente sugestionados por certos malaes sem escrúpulos. Quem é o ambicioso? Quantos outros timorenses é que se podem gabar disso?

    Quanto à ocupação indonésia, nada obrigava MC a permanecer em Timor. Podia ter ido para Java, como fizeram muitos outros, onde teria uma vida bem mais tranquila e confortável, enquanto um qualquer Abílio Osório (ou pior) ficaria no seu lugar. No entanto, MC quis ficar na sua terra, ajudando-a assim o melhor que podia. Foi ele que conseguiu abrir uma universidade em Dili e arranjou bolsas de estudo para os jovens timorenses poderem estudar na Indonésia, esses mesmos que depois pularam os muros das embaixadas. Ele ajudou secretamente a Resistência e contribuiu decisivamente para o cessar-fogo que permitiu a Xanana ganhar tempo e recompor a resistência armada. Mais tarde pagou caro o seu atrevimento, quando foi desterrado na subdesenvolvida e isolada Roménia comunista...

    Muito mais haveria para dizer sobre este homem que, concorde-se ou não com ele, é um dos poucos valores timorense da sua geração. Timor precisa do contributo construtivo de todos e não de mais ódio e calúnia.

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  3. Ainda sobre Mário Carrascalão...

    "Abílio Araújo apelida-o de «Pétain timorense» e Ramos Horta chama-se «Governador fantoche», considerando-o mais tarde «um bom funcionário».

    Uma entrevista de Xanana Gusmão dada ao jornal «Público» em 27 de Setembro, chama «agente da Intel» a Olandina Caeiro que mais tarde veio a relevar-se, tal como Mário Carrascalão, uma figura da Resistência.

    O Bispo Ximenes Belo não escapou a esta teia e de cada vez que defendia uma política mais moderada, que no seu entendimento pudesse minorar os problemas do povo, era apelidado de pró-indonésio.

    O que também era normal acontecer era atribuirem quer ao Bispo Ximenes Belo, quer a Mário Carrascalão ligações à Resistência. E ambos tinham de arranjar justificação que servisse para não criar atritos com o poder central indonésio.

    Mário Carrascalão defendia-se dizendo que não havia nenhum documento em que se provasse ter colaborado com a Resistência, embora também reconhecesse que o facto de ter dado emprego a membro da FRETILIN que, para ele, eram, apenas timorenses, originasse muitas críticas na Indonésia.

    Foi eleito em Abril de 1998 Vice-Presidente do CNRT, muito embora o seu nome tenha ficado na clandestinidade até 1999 por razões de segurança.

    Em abril de 1999, tal como Manuel, o seu nome é um dos apontados pela liderança das milícias como sendo um dos timorenses a abater."

    Todos sabemos o trágico desfecho...

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  4. mario carrascalao enbaixador da IODONESIA na Romenia, nao foi desterrado como dizia no seu comentario.

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  5. Exactamente. Todos sabemos que era o destino mais cobiçado entre os diplomatas indonésios...

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