terça-feira, outubro 31, 2006

Austrália substitui comandante, forças militares contestadas

Díli, 30 Out (Lusa) - A Austrália anunciou hoje a nomeação de um novo comandante do seu contingente militar em Timor-Leste, uma substituição que coincide com uma acentuada degradação da imagem dos soldados australianos junto da opinião pública timorense.

Em comunicado, o Ministério da Defesa australiano indicou que o brigadeiro Mick Slater regressou a casa a 26 de Outubro, e foi substituído no comando dos cerca de 1.000 efectivos pelo brigadeiro Mal Rerden, que já anunciou ter ordenado a realização de um inquérito para responder a alegações de parcialidade das forças da Austrália na actual crise político-militar timorense.

A má imagem criada seguiu-se a uma intervenção dos militares, há cerca de uma semana, no interior do campo de deslocados situado junto ao aeroporto de Díli, em que foram empregues meios considerados desproporcionados relativamente à missão a levar a cabo, como o uso de granadas de gás lacrimogéneo.

Na sequência da intervenção, o aeroporto internacional de Díli ficou com os acessos cortados por acção dos deslocados, tendo sido temporariamente encerrado durante 24 horas.

A morte de um timorense, alegadamente em resultado de disparos efectuados por um militar australiano na zona do aeroporto, teve como efeito uma reacção anti-Austrália, com o apedrejamento de viaturas militares e policiais australianas em algumas zonas de Díli.

Na sua edição de sábado passado, o jornal diário Suara Timor LoroSae publicou uma notícia de primeira página em que soldados australianos eram directam ente implicados na morte de dois timorenses.

O governo de Timor-Leste - através vice-primeiro-ministro Estanislau da Silva, dada a ausência do primeiro-ministro, José Ramos-Horta, em visita oficial ao Vaticano - saiu em defesa do contingente de 1.110 soldados australianos e n eozelandeses, sublinhando o profissionalismo e a imparcialidade daqueles efectivos e o contributo para ajudar a manter a paz e a ordem, em coordenação com a polícia das Nações Unidas (UNPOL).

Relativamente à notícia do Suara Timor LoroSae, o brigadeiro Mal Rerden já desmentiu as alegações, classificando-a como uma "manipulação de alguns elementos" que "claramente não desejam a presença de uma força de segurança profissional e imparcial". "Provavelmente porque os estamos a impedir de fazer as coisas más que pretendem", acrescentou.

José Ramos-Horta, que regressou hoje a Timor-Leste, referiu-se à má imagem pública do contingente australiano recordando que situação parecida ocorreu "há semanas atrás" com os militares portugueses da GNR, alvo de acusações de parcialidade.

"Agora é com a Austrália. E quem é que está empenhado em desacreditar a GNR? E quem é que está interessado em desacreditar a Austrália? São os inimigos deste país, os inimigos da paz", frisou o chefe do governo.

Incidentes recentes entre militares australianos e o comandante das forças armadas timorenses, brigadeiro-general Taur Matan Ruak, e também com o presidente do Parlamento Nacional, Francisco Guterres "Lu Olo", contribuíram para afectar a imagem australiana em Timor-Leste.

Taur Matan Ruak insurgiu-se veementemente contra os incidentes em que foi envolvido, quando, em duas ocasiões, soldados australianos o retiveram, e à sua escolta, em postos de segurança para identificação, apesar de circular fardado .

O comandante das forças armadas timorenses não poupou ainda nas críticas à alegada passividade do contingente australiano na contenção dos actos de violência ocorridos em Díli, defendendo, em tom irónico, que a capital timorense de veria mudar de designação, passando a chamar-se "Cowboy City" em vez de Díli.

Francisco Guterres "Lu-Olo", presidente do Parlamento Nacional, disse à Lusa que os incidentes ocorridos com Taur Matan Ruak eram "intoleráveis" e disse que também ele próprio, numa ocasião, foi importunado por soldados australianos.

No comunicado em que anuncia a substituição do comandante do contingente militar australiano, o Ministério da Defesa da Austrália elogiou o brigadeiro Mick Slater, classificando a sua liderança como "ilustre".

"O seu hábil desempenho na complexa situação enfrentada pelos nossos soldados foi fundamental para ajudar Timor-Leste a encontrar a via da paz e da estabilidade, garantindo aos timorenses uma verdadeira esperança para o futuro dest a jovem nação", lê-se no comunicado.

O contingente militar australiano chegou a Timor-Leste a 25 de Maio, no âmbito de um pedido das autoridades timorenses, extensivo a Portugal, Malásia e Nova Zelândia, para ajudarem a garantir a paz e a segurança, seriamente afectad as com a crise político-militar desencadeada em Abril, e que já provocou mais de meia centena de mortos e a fuga de cerca de 180 mil pessoas das suas áreas de r esidência, que se encontram agora em campos de acolhimento espalhados pelo país.

EL-Lusa/Fim

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