sexta-feira, julho 14, 2006

Quando deito a cabeça no teu colo, Camarada

Quando deito a minha cabeça no teu colo, Camarada,

A confissão que fiz eu reafirmo, o que eu te disse ao ar livre eu reafirmo:

Eu sei que sou inquieto e torno os outros assim;

Eu sei que minhas palavras são armas, cheias de perigo, cheias de morte;

(Na verdade eu próprio sou o verdadeiro soldado;
Não é ele, ali, com a sua baioneta, e não é o artilheiro enfaixado de vermelho;)

Pois eu enfrento a paz, a segurança, e as leis enraizadas para as desenraizar;

Eu sou mais determinado porque todos me negaram, mais do que teria sido se todos me tivessem aceite,

Eu não ligo, e nunca liguei, quer a experiências, cautelas, maiorias, ou ao ridículo;

E a ameaça a que chamam inferno é pequena ou nada para mim

E a promessa a que chamam paraíso é pequena ou nada para mim;

… Caro camarada! Eu confesso que te incitei a ir em frente comigo, e ainda te incito, sem a mínima ideia de qual é o nosso destino,

Ou se vamos sair vitoriosos, ou totalmente vencidos e derrotados.


Walt Whitman

.

1 comentário:

  1. Poeta castrado não!

    Serei tudo o que disserem
    por inveja ou negação:
    cabeçudo dromedário
    fogueira de exibição
    teorema corolário
    poema de mão em mão
    lãzudo publicitário
    malabarista cabrão.
    Serei tudo o que disserem:
    Poeta castrado não!

    Os que entendem como eu
    as linhas com que me escrevo
    reconhecem o que é meu
    em tudo quanto lhes devo:
    ternura como já disse
    sempre que faço um poema;
    saudade que se partisse
    me alagaria de pena;
    e também uma alegria
    uma coragem serena
    em renegar a poesia
    quando ela nos envenena.

    Os que entendem como eu
    a força que tem um verso
    reconhecem o que é seu
    quando lhes mostro o reverso:

    Da fome já não se fala
    - é tão vulgar que nos cansa -
    mas que dizer de uma bala
    num esqueleto de criança?

    Do frio não reza a história
    - a morte é branda e letal -
    mas que dizer da memória
    de uma bomba de napalm?

    E o resto que pode ser
    o poema dia a dia?
    - Um bisturi a crescer
    nas coxas de uma judia;
    um filho que vai nascer
    parido por asfixia?!
    - Ah não me venham dizer
    que é fonética a poesia!

    Serei tudo o que disserem
    por temor ou negação:
    Demagogo mau profeta
    falso médico ladrão
    prostituta proxeneta
    espoleta televisão.
    Serei tudo o que disserem:
    Poeta castrado não!

    José Carlos Ary dos Santos

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