Entrevista de Ramos-Horta ao PÚBLICO
Novo primeiro-ministro de Timor-Leste define prioridades
08.07.2006 - 16h02
Adelino Gomes (PÚBLICO)
Garantir a segurança em Díli; assegurar o regresso dos deslocados às suas cidades e casas; reabrir as escolas; fazer acertos no Orçamento Geral de Estado e promover o diálogo para a reconciliação. Estas são as prioridades de José Ramos-Horta, desde hoje o novo primeiro-ministro de Timor-Leste.
Numa entrevista ao PÚBLICO, Ramos-Horta diz que não há alteração nenhuma a fazer na política petrolífera, porque todo esse processo “foi seguido com agilidade pelo dr. Mari Alkatiri” e com o seu apoio.
O primeiro-ministro de Timor-Leste diz que vai continuar a apostar “nas boas relações com a Austrália, a Indonésia, a China, o Japão, os EUA, Cuba, assim como com um dos países mais nossos amigos, que é Portugal, bem como com a CPLP”.
(A entrevista será publicada na íntegra na edição de amanhã, domingo, do PÚBLICO)
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E MAIS NADA. ASSIM MESMO!!
ResponderEliminarTranscrição da entrevista que não está on-line:
ResponderEliminarO primeiro-ministro indigitado de Timor, José Ramos-Horta, quer ter o Governo formado até ao fim da semana, fazer resgressar os deslocados, reabrir as escolas e lançar um “diálogo nacional para a reconciliação”. A política petrolífera não será mexida.
Por Adelino Gomes, Público, 09/07/06
“Espero não trair a confiança de tantos timorenses”
“O pano de fundo” em que vai tomar posse, amanhã, não deixa margem a José Ramos-Horta para sentimentos de alegria ou de orgulho. Isso foi na cerimónia da independência em 2002. Hoje, “é a tragédia e são as dificuldades que nos assolam”, disse ao Público, ontem, ao fim da manhã (início da noite em Timor-Leste) nas primeiras declarações após a sua indigitação para primeiro-ministro do segundo Governo constitucional de Timor-Leste. Entrevista dada por telefone (música clássica em fundo), a partir da residência, em Dili, do Prémio Nobel da Paz.
Público – Quais as prioridades deste Governo?
José Ramos-Horta - Há várias. E têm que ser todas executadas em paralelo. Consolidar a segurança em Dili, de forma a podermos fazer regressar dezenas de milhares de deslocados a suas casas; constituição do Governo até ao fim da semana que vemacerto no orçamento geral do Estado até ao fim do mês; reabrir as escolas em Dili; tentar executar, no imediato, programas que possam acudir às maiores necessidades. Um exemplo: a limpeza da cidade e outras pequenas obras que não exijam muita burocracia; e lançar o diálogo nacional para a reconciliação.
Público – Como vai ser resolvido o problema dos ex-peticionários?
José Ramos-Horta - Essa é uma das tarefas em que estou empenhado, em sintonia como Presidente da República. Assentará na criação de uma Comissão Nacional para o Diálogo, que envolverá os dois bispos, a sociedade civil e todas as partes afectadas, nomeadamente os peticionários, os militares , e elementos da Polícia Nacional, vítimas deste conflito. Vai levar meses. Calculo entre três e seis meses, o tempo necessário para colocarmos de pé as várias etapas deste processo.
Público – Têm sido ouvidas várias críticas à benevolência com que, por exemplo, os majores que abandonaram a cadeia hierárquica têm sido tratados.
José Ramos-Horta - Obviamente que o primeiro-ministro Mari Alkatiri e o ex-ministro (do Interior) Rogério Lobato, por serem altos responsáveis do Estado, têm maiores responsabilidades. Daí que o Procurador-Geral da República, apoiado por procuradores internacionais cuja isenção e imparcialidade respeitamos, tenham actuado precisamente em relação às pessoas que consideraram dever actuar. Em relação a pessoas que estão na posse de armas mas que não cometeram crimes, as armas são recolhidas e depois a Justiça segue o seu curso. Pessoalmente desconheço se o major Reinado já foi ouvido, mas julgo que o senhor Railós e os seus adjuntos (responsáveis do grupo paramilitar formado no âmbito da Fretilin com o alegado propósito de liquidar adversários do primeiro-ministro) já foram.
Público – Em entrevista recente, preconizou uma solução política para este último caso.
José Ramos-Horta - Obviamente que (uma solução política) deveria abranger todos. Precisamos de ter em consideração a fragilidade deste país, a complexidade de toda a situação. Mas tudo deve ser feito sem ofender os princípios da justiça. O que é preciso é encontrar o equilíbrio entre a Justiça e a necessidade de preservar a estabilidade neste país.
Público – Disse-se inúmeras vezes que a razão profunda desta crise podia ser encontrada no petróleo. Que alterações vão ser introduzidas na política de exploração?
José Ramos-Horta - Não há alteração nenhuma, porque todo este processo foi seguido com agilidade pelo dr. Mari Alkatiri com o meu apoio e de pessoas totalmente insuspeitas, nomeadamente grandes especialistas do Direito Internacional de países como a Noruega, Austrália e EUA.
Público – E na política externa? Vários críticos consideram, tendo em conta actuações nesta crise quer do Presidente Xanana quer do seu ministro dos Negócios Estrangeiros e agora PM indigitado, que pode haver um realinhamento amplamente favorável à Austrália.
José Ramos-Horta - Não haverá a mais pequena alteração, tendo sido eu o arquitecto dessa política externa. Ela, aliás, contou sempre com o apoio do Presidente da República, do Parlamento e de Mari Alkatiri. O seu carácter dinâmico, inteligente e pragmático tem-nos valido (relações de) confiança na região e no mundo. Vamos continuar a apostar em boas relações com a Austrália, a Indonésia, a China, o Japão, os EUA, Cuba, assim como com um dos países mais nossos amigos que é Portugal, e com a CPLP.
Público – O espectro de eleições antecipadas está afastado?
José Ramos-Horta - Sim. A ideia (defendida por Xanana Gusmão) já está posta de lado.
Público – No plano político-pessoal como vai sentir-se na tomada de posse: com alegria e orgulho porque alcançou um cargo que ambicionava? Ou é uma caminhada em direcção à Presidência?
José Ramos-Horta - Com total honestidade, só posso dizer que quando for empossado o meu sentimento não será de alegria ou de orgulho. O pano de fundo é a tragédia e as dificuldades que nos assolam. A cerimónia de 20 de Maio de 2002 (proclamação da independência em Taci-Tolo, perante Kofi Annan, os presidentes de Portugal e da Indonésia, o ex-presidente dos EUA, Clinton) sim, foi de expectativa, de orgulho e de alegria. Segunda-feira não. Espero é não trair a confiança de tantos timorenses de todos os quadrantes, que nas últimas horas me enviaram centenas de mensagens. Nem uma única era negativa. Todas de apoio. Não esperava. É isso o que mais me preocupa.
Obrigado, Margarida!
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