DN - 9.06.2006
Armando Rafael
A Austrália entende que o Estado timorense falhou e que as autoridades de Díli não estão em condições de recuperar o controlo do país. Pelo que deveria ser a ONU a liderar o processo de reconciliação, ajudando a credibilizar as principais funções do Estado, de forma a poderem ser convocadas eleições para Maio do próximo ano.
O que pressupõe, entre outros aspectos, que a polícia timorense pudesse ser comandada por um oficial estrangeiro, à semelhança do que sucederia com o aparelho judiciário do país. Mesmo que fosse necessário recorrer à nomeação de juízes, procuradores, defensores públicos e até oficiais de justiça internacionais.
Já quanto à estabilização, Camberra entende que as forças envolvidas nesse esforço deveriam manter-se sob comando e controlo do contingente internacional, recusando o chapéu da ONU.
É isto que resulta de um documento confidencial australiano a que o DN teve acesso - East Timor: A Future UN Mission - e que deverá servir como documento-guia para Camberra no âmbito da definição de uma nova missão da ONU para Timor-Leste.
Esse debate deverá começar na próxima terça-feira, quando o Conselho de Segurança se reunir, em Nova Iorque, para apreciar as recomendações que o secretário-geral da ONU se prepara para fazer. Sendo certo que Kofi Annan irá basear as suas opiniões no relatório que Ian Martin - o seu enviado especial a Timor-Leste - lhe fará chegar.
Isto, independentemente das consultas que vier a fazer a países como Portugal, Austrália, Malásia e Nova Zelândia (que responderam ao apelo de Díli, enviando contingentes militares e policiais), além dos membros permanentes do Conselho de Segurança. Sobretudo os EUA, sobre os quais recairá grande parte dos custos de uma eventual nova missão.
É neste quadro que surge o documento australiano, que terá sido entregue às autoridades timorenses no decurso da visita que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Alexander Downer, fez recentemente a Díli.
Um exercício que tem tanto de diplomacia como de realismo, já que as autoridades de Díli terão sempre uma palavra a dizer sobre o grau de intervenção da ONU. Salvo uma situação extrema em que os principais responsáveis do país (Presidente da República, Governo e Parlamento) não se entendessem entre si.
No documento a que o DN teve acesso, a Austrália resume o essencial das suas posições a três prioridades, que, no entender de Camberra, deveriam nortear a nova missão da ONU: reconciliação política e comunitária, sistema de justiça e estrutura governativa.
No que respeita à reconciliação política, Camberra defende, por exemplo, que a nova missão deveria prever um esforço especial no domínio das relações intertimorenses, insistindo na necessidade de serem investigados os distúrbios que ocorreram em Díli, no final de Abril, e as queixas que provocaram "deserções em massa" nas forças armadas.
Por sinal, duas das principais reivindicações dos majores Alfredo Reinado, Marcos Tilman e Alves Tara e dos "peticionários" liderados pelo tenente Salsinha, que passaram a insistir também na demissão do primeiro-ministro, Mari Alkatiri.
Quanto às Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), comandadas por Taur Matan Ruak, só há uma referência: a que prevê a hipótese de a nova polícia poder ser formada com aquilo que resta das forças armadas e de uma estrutura policial que, segundo os australianos, entrou e em colapso. O que parece ser verdade em Díli e Ermera, mas não no resto do país.
Malai Azul, Como esta a situacao nas ruas? Continuam a queimar casas? Ha confrontos?
ResponderEliminarCrendo na boa vontade e na fé do povo Timorense, só posso pensar que é esta a “arma” que se poderá utilizar para criar confusão.
ResponderEliminarLembro quando sucedeu o “Tsunami” e do posterior “boato” de que algo semelhante se aproximava das praias de Díli.
Um certo caos se instalou e as pessoas deslocaram-se para as montanhas envolventes durante alguns dias.
Houve confusão, houve pânico. Houve interesses por detrás desses boatos…
Quando se formaram as “manif” devido ao ensino de religião nas escolas sucedeu o mesmo.
Houve confusão, houve boatos, desinformação. Houve interesses por detrás que levaram a fraccionar a população…
Os interesses prevalecem, usam as mesmas tácticas e geram a mesma confusão porque o povo é o mesmo.
Contudo, eu creio na fortaleza dos Timorenses.
Creio na sua integridade e na sua perseverança.
Creio até na sua teimosia e no seu orgulho – que não é como o do ocidental – estridente e esmagador como os seus meios bélicos.
O orgulho Timorense é como o som do mar… eco sempre presente e profundo como as fundações do seu espírito livre. Poderá parecer que não está lá, mas se ouvirmos com cuidado – ecoa em toda a parte.
Poderá parecer aos internacionais que o Timorense é fácil de manipular.
Como me dizia um responsável – certa vez numa conversa informal – o timorense vai rir, vai dizer que sim, vai parecer lerdo e limitado – mas, no fundo - vai sempre fazer o que a sua própria vontade manda.
Bem haja