segunda-feira, maio 29, 2006

Exótica aberto ao jantar

Com produtos fresquinhos!

9 comentários:

  1. empregados fresquinhos também?

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  2. Boa! Epá, bom apetite! Malai(s) Azul (is) vai dando notícias. Já sei que vão fazer um grande intervalo e estão perdoados. Obrigado, um muito grande obrigado por terem sido a voz de quem está aí e a ligação de quem esteve sempre por aqui.

    Um grande abraço para todos e lá nos encontramos um dia destes no Hotel Timor por volta das 7 horas para ver o trânsito da 2ª circular na RTPI!

    Malai de Sydney

    Ps: enviem um grande beijinho à (?) de Cronulla!

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  3. Ressentimento, Cultura e Poder em Timor-Leste: os catalizadores da crise.

    Kelly Cristiane da Silva e Daniel Schroeter Simião

    Timor-Leste passa, desde o último mês, pela maior crise política desde a restauração de sua independência, em maio de 2002. Polícia e Forças Armadas locais estão em conflito aberto. Civis armados tomam as ruas de Dili, atirando a queima-roupa e incendiando casas. Desesperada, a população pede abrigo em igrejas ou busca segurança em suas sagradas montanhas. Xanana Gusmão, Presidente da República, e Mari Alkatiri, Primeiro-Ministro, disputam autoridade de comando sobre as frágeis forças de defesa do país.

    No sábado pela manhã as Nações Unidas decretaram estado de emergência 3, evacuando seus quadros para Austrália, como em 1999. Ao mesmo tempo, forças de segurança internacionais, disponibilizadas pela Austrália, Nova Zelândia, Malásia e Portugal chegam ao país.

    O que de longe parece o caos, visto de perto apresenta uma lógica própria, construída em razão dos acontecimentos políticos dos últimos cinco anos que foram, aos poucos, consolidando tensões estruturais entre diferentes grupos da elite local. Para entender a explosão de violência das últimas semanas, precisamos entender as fontes daquelas tensões, algumas delas históricas, outras constituídas como consequência da ocupação indonésia e do modo como o processo de edificação do Estado-nação vem sendo conduzido pela ONU.

    A explicação mais recente para o estopim desta crise - um conflito entre quadros das Forças Armadas que teriam desobedecido o comando geral - coloca o problema como um confronto étnico entre grupos do leste (Firaku) e do oeste (Kaladi). Diz-se que os primeiros, tendo desempenhado papel mais ativo na guerrilha de resistência à ocupação indonésia (1975-1999), teriam concentrando em suas mãos as posições de alta patente no recém-formado exército timorense. Os segundos, sentindo-se discriminados, protestaram, o que teria levado o comando das Forças Armadas a expulsar, por deserção, um grande contingente de militares de dita origem Kaladi. De aí para a frente, os protestos intensificaram-se, ganharam as ruas de Dili e aos poucos foram tomando proporções incontroláveis.

    O problema entre Firaku e Kaladi, contudo, parece-nos ser apenas o idioma no qual se expressa, no caso das forças de defesa, uma crise de reconhecimento mais profunda e que perpassa muitas outras dimensões da sociedade timorense. O caso ocorrido nas Forças Armadas catalizou um conflito que já existia de forma latente - e é digno de nota que tenha sido escolhido o idioma étnico para a manifestação pública destas disputas.

    O conflito atual deve ser compreendido em um contexto de longa duração. No ano passado, durante dezenove dias, timorenses de diversos distritos foram às ruas de Dili para protestar contra a decisão do executivo de retirar o ensino religioso do currículo obrigatórios das escolas públicas. Naquele caso, o grupo formado em torno do Primeiro-Ministro - chamado por muitos, pejorativamente, de "máfia de Moçambique", por ter permanecido boa parte do período de ocupação indonésia fora do país - defendia claramente um projeto laicizante do Estado, opondo-se a grupos que permaneceram no país durante a ocupação e que mantinham fortes vínculos com a Igreja Católica.

    Podia-se ver, naquele caso, uma forte dose de ressentimento dos que haviam permanecido no país em relação aos que, voltando agora, assumiam o Poder Executivo e desconsideravam os valores caros à população local. Os protestos quase levaram à queda do governo, tendo sido fundamental a mediação da presidente Xanana Gusmão, atuando como autoridade tradicional na elaboração de um acordo entre Igreja e Executivo.

    No início de 2005 outra crise já havia mexido com estes ressentimentos, desta vez em relação ao sistema de justiça. O presidente do Tribunal de Recurso (instância máxima do judiciário local), um retornado da diáspora timorense em Portugal, convenceu-se de que os juízes timorenses, em geral jovens formados em direito em universidades indonésias, não dominavam adequadamente as regras de interpretação da lei. Aplicando uma prova, reprovou a todos, destituindo-os da função. A crise contribuiu para opor grupos de retornados da diáspora em posições de poder a grupos da elite local que haviam permanecido no então Timor Timur , a 27ª província da Indonésia nos 24 anos de ocupação do território.

    Se voltarmos ainda mais no tempo, lembraremos que a escolha da língua portuguesa com idioma oficial, durante a Assembleia Constituinte em 2001, foi uma decisão fortemente criticada pela geração mais nova, educada em indonésio no período de ocupação.

    Este conjunto de pequenos conflitos entre diferentes setores das elites locais parece não ter tido espaço adequado de resolução nos últimos anos, e acaba voltando à tona com a crise de hoje. A forma de gerir a construção do Estado promovida pelo Sistema ONU e suas missões em Timor-Leste parece não ter dado lugar para grupos com menor poder, desconsiderando-os na definição de políticas e na formação de sistemas e instituições estatais.

    Mais especificamente no caso atual, a gestão do processo de formação do Estado parece evidenciar uma grande inabilidade em incorporar a frente de resistência armada no processo de construção do Estado. Neste sentido, os surtos de violência coletiva podem ser vistos, como muitos dos surtos recorrentes em outras países do Sudeste Asiático, como um ritual político de afirmação da existência de projetos alternativos para a construção nacional - rituais de grupos em busca de reconhecimento social e político. São também o momento de visibilização de tensões que não encontram outros canais para ser equacionadas.

    Uma análise mais detalhada do aparente caos pelo qual passa Timor-Leste revela, assim, novas modalidades de diferenciação social entre as elites timorenses, instituídas como conseqüência da ocupação indonésia e dos eventos que a sucederam. Cada uma delas se sobrepõe e dialoga com os mecanismos de hierarquização social "tradicional" dos diferentes povos timorenses, bem como com os sistemas de marcação social existentes nas distintas fases do empreendimento colonial português.

    A dinâmica entre esses atores e a maneira como atribuem sentido à sua experiência parecem estar fortemente ligadas a três fatores fundamentais: a) às posições assumidas nas diferentes frentes da resistência à ocupação indonésia (frentes armada, diplomática e clandestina); b) à maneira como foram ou não incorporados ao Estado colonial português e ao Estado indonésio; e, c) no caso dos retornados, ao país de acolhida no período do exílio (Austrália, Portugal, Moçambique, entre outros).

    Não se trata de dizer que a crise atual seja de responsabilidade exclusiva da ONU ou do governo timorense. Mas não podemos deixar de notar que as Nações Unidas, por meio de suas missões, potencializaram um grupo das elites locais em detrimento de outros. E, neste caso, a tecnologia de gestão de conflitos do Ocidente não dá conta de regular tensões culturais que se manifestam através de vínculos étnicos, por exemplo. A estabilidade produzida por este sistema é apenas aparente; uma verdadeira ficção de paz.

    Kelly Cristiane da Silva, doutora em antropologia social. Professora da Universidade de Brasília (UnB), autora da tese: "Paradoxos da Auto-determinação: a construção do Estado-Nação e as práticas da ONU em Timor-Leste".

    Daniel Schroeter Simião, doutor em antropologia social. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estudou os processos locais de resolução de conflitos em Timor-Leste, autor da tese: "As Donas da Palavra: gênero, justiça e a invenção da violência doméstica em Timor-Leste".
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  4. What is Howard's Role in the Timor Leste Coup?
    By Tim Anderson


    The violence in Dili is hardly an industrial dispute, nor spontaneous
    ethnic violence. Timor Leste's Prime Minister, Mari Alkatiri, says
    the armed attacks are part of an attempted coup, and follow a history
    of destabilisation attempts. It is likely he knows better than the
    Australian pundits, who have been speaking simply of 'east west'
    rivalry, and an 'immature' nation, unready for independence.



    Such caricatures of the country and the government are misleading and
    dangerous. There has been destabilisation of the legitimate Fretilin
    government, ever since independence, and the Howard government has
    played a part. An important question now is: how much of a part?



    A fairly high level of organisation, and confidence, can be seen both
    in the mobilisation of weapons and the international appeals from the
    army defectors. Heavy weapons were taken, and renegade leader Alfredo
    Reinado (who joined Gastao Salsinha, leader of the sacked soldiers)
    says he welcomes the arrival Australian troops, and wants to 'have a
    VB' with the aussies.



    Such familiarity from a person engaged in murder and mutiny is
    disturbing. And instead of calling Reinado and his followers
    'criminals' or 'terrorists', John Howard has turned on the Alkatiri
    Government. As the troops roll in Howard says "The country has not
    been well governed .. the real challenge . is to get a government
    that has the confidence of the local people".



    Coup plotters rarely act without assurances of outside support, or at
    the least post-coup recognition. A US guarantee of regime recognition
    was central to the Chilean coup of 1973, and the abortive 2002 coup
    in Venezuela. More recently in Haiti, even though the US had no
    credible alternative candidate, they fomented violence to remove a
    popular leftist leader.



    Media backing is essential for a coup. Paul Kelly from The Australian
    (which has waged a long campaign against the Fretilin government)
    questions whether the democratically elected PM of the country "has a
    long-term role here as part of the solution". Some diplomats are
    reported as saying that the resignation of Alkatiri "may convince the
    warring gangs to lay down their arms".



    On this argument, PM Alkatiri only "survived" the recent Fretilin
    elections, where he faced a possible challenge from a
    Washington-based diplomat. In fact, Alkatiri won more than 90%
    support in the party vote, and Fretilin retains almost 60% support
    across the country .



    While the internal rivalry between Prime Minister Alkatiri and
    President Xanana Gusmao has received a lot of attention, less has
    been said about international tensions and destabilisation, which has
    followed several disputes.



    The dispute over oil and gas is well known. Mari Alkatiri had the
    support of all parties in driving a hard line with the Howard
    government. Many believe the Timorese were still robbed by a deal
    Howard continues to call 'generous'.



    Less well known are the disputes over agriculture, where Australia
    and the World Bank refused to help rehabilitate and build the
    Timorese rice industry, and refused to support use of aid money for
    grain silos. Under Alkatiri, the Timorese have reduced their rice
    import-dependence from two-thirds to one-third of domestic
    consumption.



    After independence an expensive phone service run by Telstra was
    replaced by a government joint venture with a Portuguese company. And
    following a popular campaign, Timor Leste remains one of the few
    'debt free' poor countries. Alkatiri's consideration here, as
    economic manager, was to retain some control over the country's
    budget, and the building of public institutions.



    In 2005 there was a Church led dispute over the apparent relegation
    of religious education to 'voluntary' status in schools. The dispute
    was resolved, but not before it had become the focus of an open
    campaign to remove Alkatiri, who was branded a 'communist'. During
    this dispute some East Timorese were alarmed to see that the US
    Embassy (and possibly also the Australians) providing material
    support (such as portable toilets) to the demonstrators, effectively
    backing an opposition movement.



    Over 2004-06 the Alkatiri government secured the services dozens of
    Cuban doctors, and several hundred young Timorese students are now in
    Cuba, studying medicine free of charge. No one criticises this
    valuable assistance, but the US does all it can to undermine Cuban
    policy.



    It is worth remembering that the suggested 'communist' politics of
    Fretilin in 1975 was a major reason for US support for the Indonesian
    invasion and occupation. Australia followed suit. Today the
    'communist' tag is again used by Reinado to target the Fretilin
    government.



    Reinado rejects government orders, but has allied himself to Xanana
    and Jose Ramos Horta, the two non-Fretilin members of the government.
    (Ramos Horta is known to be close to the Bush administration.) It is
    not clear yet to what extent Xanana and Ramos Horta have links to
    Reinado. Alkatiri has not, contrary to media reports, accused the
    President of complicity. Yet the coup attempt proceeds in Xanana's
    name.



    The current situation is complicated by the arming of civilian groups
    on both sides of the coup plot, and the fact that troops from several
    countries have been invited. Of these, the Portuguese seem to
    maintain strongest support for the Timorese government, while the
    Australians seem to be apologising for the plotters.



    A possible 'junta' to be installed by Australian intervention
    (already hinted at by Kirsty Sword Gusmao) could include nominees of
    the Catholic bishops, Ramos Horta and an ailing Xanana (ill with
    kidney disease). The forced removal of Mari Alkatiri, his ministers
    and army chief Taur Matan Ruak, and the presence of occupying troops
    till next year's election might seriously undermine Fretilin's
    dominant position. But then again, the coup might fail.



    Occupying armies are bad news for democracy. The Australian
    government comes to its most recent intervention in Timor Leste
    literally 'blooded' from its spectacularly unsuccessful interventions
    in Afghanistan, Iraq and the Solomons.



    The current intervention may be necessary, if it has been
    legitimately called for by the East Timorese government; but it is
    also a great danger for the country's democracy. Australian people,
    who strongly supported independence for the people of Timor Leste,
    should watch Howard's latest intervention very closely.







    Tim Anderson is an academic who has visited Timor Leste several
    times, both before and after independence.
    --
    Dr. Bob Boughton
    Senior Lecturer
    Adult Education & Training
    School of Professional Development and Leadership
    University of New England
    Armidale NSW 2351, Australia

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  5. Estes dois textos são excelentes alimentos para quem aprecie uma boa refeição em no Exótica.

    O caminho faz-se caminhando...

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  6. excelente. essa normalidade de se poder comer no Carlos deve ser importante para que se veja alguma luz

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  7. Excelente as análises dos brasileiros Kelly e Daniel.
    Independente das tensões políticas da sociedade timorense, exonerar 40% doas forças armadas é de uma inabilidade gigantesca.
    Inabil também é o sr PM ao bater de frente com a igreja de Timor que resistiu, no território, a ocupação indonésia. A educação religiosa nas escolas é um dos pilares dessa política e o sr PM não teve a sencibilidade nem a visão politica da gravidade deste tipo de conflito que ele memsmo iniciou.
    Vejamos, após esse desmonte, se aprendem com esta dramática experiência.
    Alfredo
    Brasil

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  8. O Exotica estava fixe?

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